Bunkyo responde à carta aberta de Mário Jun Okuhara e rebate críticas

Sessão do dia 25 de julho em que a Comissão de Anistia reconheceu as graves violações sofridas pelo imigrantes japoneses – gilmar ferreira-ascom-sri

Em resposta à carta aberta do produtor audiovisual Mário Jun Okuhara à Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Bunkyo, na qual o proponente do pedido de reparação moral sem fins pecuniários às graves violações sofridas pelos imigrantes japoneses e seus descendentes na década de 1940, “estranha que uma entidade que se apresenta como representante da comunidade nipo-brasileira em todo país não tenha se pronunciado” sobre a situação, o Bunkyo alega que, “pessoalmente sentimo-nos reconfortados com essa decisão, que coroou a sua iniciativa de propor àquele órgão, pedido de reparação moral sem fins pecuniários para os japoneses e seus descendentes brasileiros, pois também nossos ascendentes japoneses sofreram as agruras da guerra”.

Na carta aberta, com data de 02 de agosto e enviada ao Conselho do Bunkyo – inicialmente por Whatsapp e depois publicada em sua página no Facebook –, Mario Jun expressa sua “perplexidade e preocupação diante do silêncio desta entidade em relação ao pedido oficial de desculpas”.

“Este momento histórico, amplamente reconhecido e repercutido tanto em âmbito nacional como internacional, marca um passo  importante na justiça de transição e no reconhecimento das graves violações sofridas pelos imigrantes japoneses e sesu descendentes durante a Segunda Guerra Mundial e no pós-guerra”, diz a carta enviada também ao Nippon Já.

Renato Ishikawa e Jorge Yamashita, respectivamente, presidente da Diretoria e presidente do Conselho Deliberativo do Bunkyo, que assinam a carta-resposta enviada ao produtor – e que o Nippon Já teve acesso – ressaltam que, “como associação civil brasileira que é, e tendo o Bunkyo como sua missão principal preservar e difundir a cultura japonesa no Brasil e a brasileira no Japão, visando o fortalecimento da relação de amizade entre o Brasil e o Japão, preferimos não nos manifestar publicamente sobre a decisão da Comissão de Anistia, tanto em respeito aos nossos pioneiros imigrantes japoneses como ao povo brasileiro, cujos filhos também foram vítimas dos sofrimentos causados pela guerra, como aqueles que combateram e tombaram em terras italianas”.

Negacionista – Para Mario Jun, a postura adotada pelo Bunkyo, ao não se manifestar sobre a retratação do Estado brasileiro, “levanta questões sobre o compromisso da entidade em tratar de temas cruciais como as injustiças históricas, o racismo e a xenofobia.”

Diz ainda que, “em 2018, quando solicitei apoio do Bunkyo à causa, recebi a negativa so a alegação de que as festividades dos 118 (sic) anos da imigração japonesa no país eram uma prova suficiente de reconhecimento das graves violações sofridas “.

E continua: “Entendo que o Bunkyo, ao longo dos anos, sempre teve dificuldades em abordar assuntos delicados e dolorosos relacionados às violações sofridas pela comunidade nipo-brasileira. No entanto, o slêncio atual pode ser interpretado como uma postura negacionista, especialmente em um contexto onde o próprio governo japonês se pronunciou sobre a questão”.

Compromisso – Para a entidade, é “totalmente equivocada a interpretação de que nosso silêncio possa ser considerada uma postura negacionista” e refuta o alegado de que “o silêncio desta nossa entidade sobre a retratação do Estado brasileiro, levanta questões sobre o compromisso do Bunkyo em tratar de temas cruciais como injustiças históricas, o racismo e a xenofobia”.

E convida o produtor a “conhecer as atividades desenvolvidas pelo Bunkyo, principalmente no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, que mantemos e administramos desde 1978, onde encontram-se narrados fatos da história da Segunda Guerra Mundial e da perseguição sofrida por imigrantes japoneses e seus descendentes,  e no Núcleo de Convivência de Idosos- NCI, que mantemos em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo, recebendo e assistindo direta e pessoalmente a cem idosos de qualquer nacionalidade, e dedicando atendimento virtual a oitenta famílias, todos residentes no bairro da Liberdade, nesta Capital”.

Integração – Na carta aberta, Mario Jun considera que a “omissão do Bunkyo, diante da relevância e do impacto dete pedido de desculpas, é pertubadora e contradiz  com seu papel de representatividade”. “É fundamental que o Bunkyo reconheça a importância deste momento histórico  e se posicione de forma cristalina”.

O Bunkyo afirma que “não só tratamos dessas questões como atuamos efetivamente para evitar que ocorram”. E a entidade conlui que “hoje, a comunidade nipo-brasileira constitui-se em importante segmento da sociedade brasileira e os nikkeis, plenamente integrados à população brasileira, convivem harmoniosa e fraternalmente com brasileiros de todas as etnias, como é do objetivo maior do Bunkyo e de todas as entidades da comunidade”.

(Aldo Shiguti)

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