Haicai Brasileiro – Temas de Agosto 3

[Este texto destina-se exclusivamente à edição 137]

 

HAICAI BRASILEIRO

 

O Jornal Nippon Já publica aqui os haicais enviados pelos leitores. Haicai é um tipo de poema que se originou no Japão. Seu maior expoente é Matsuo Bashô (1644-1694). O haicai caracteriza-se por descrever, de forma breve e objetiva, aspectos da natureza (inclusive a humana) ligados à passagem das estações. Hoje, no mundo inteiro, pessoas de todas as idades e formações escrevem haicais em suas línguas, atestando a universalidade dessa forma de expressão.

 

A seleção é feita pelos haicaístas Edson Iura e Francisco Handa.

 

Escreva até três haicais de cada tema sugerido (o tema deverá constar do haicai), identificando-os com seu nome (mesmo quando preferir usar pseudônimo) e endereço. Cada pessoa pode participar com apenas uma identidade.

 

Os trabalhos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail ashiguti@uol.com.br, com o assunto: “Haicai Brasileiro”.

 

 

 

TEMAS DE AGOSTO

 

Cascata seca – Azaleia – Cachecol

 

 

no bar já fechado

um cachecol esquecido

sobre o balcão

Carlos Viegas

Brasília, DF

 

cachecol vermelho

sobre a mesa do quarto

lembrança da avó

Clênio F. Salviano

Montreal, Canadá

 

Cachecol ao vento,

sinto-me o Pequeno Príncipe.

Só falta a raposa.

Cyro Mascarenhas

Brasília, DF

 

Cascata seca

sem o som da enxurrada

pedra úmida

Diego Petrarca

Porto Alegre, RS

 

Velho cachecol –

Na gaveta algumas fotos

de rostos mais jovens

George Goldberg

Londres, Inglaterra

 

Esquecidas

no fundo do quintal –

Azaleias florescem.

Jaíra Presa

Santos, SP

 

não sei se lhe tomo

ou faço fotografias

cachecol e gato

José Marins

Curitiba, PR

 

seus pés caminham

sobre flores de azaleias

sem olhar atrás

Josep Moraes

Assunção, Paraguai

 

silente manhã –

ali na cascata seca

apenas os musgos

Jurema Rangel

Rio de Janeiro, RJ

 

No cartão postal

um jardim de azaleias.

Na palma da mão.

Lizziane Azevedo

João Pessoa, PB

 

Azaleia em flor

Idosa de rosto triste

esboça um sorriso

Marina Rehfeld

Belo Horizonte, MG

 

Veste o cachecol

tricotado pela mãe.

“Se cuide meu filho”.

Matsuki Pichorim

  1. José dos Pinhais, PR

 

Cascata seca –

Somente um fiapo de água

pelo paredão

Mônica Monnerat

Santos, SP

 

o jardineiro-mor

fez surpresa na estrada

azaleias coloridas

Nilcéia Albuquerque França

Ponta Grossa, PR 

 

Suaves pétalas –

mescladas e róseas

jardim de azaleia

Norma Silveira Moraes

Suzano, SP

 

Na entrada do sítio,

Laterais de azaleias

Alegram quem chega.

Reneu Berni

Goiânia, GO

 

flores coloridas –

igualzinho o cachecol

da professorinha

Sempre Feliz

Contagem, MG

 

de manhãzinha

o vaso com azaleias –

à soleira da porta

Vanice Zimerman

Curitiba, PR

 

 

 

Temas de setembro (postar até 10 de agosto)

Mar de primavera – Frésia – Rodeio

 

Temas de outubro (postar até 10 de setembro)

Marimbondo – Uvaia – Dia das Crianças

 

[Este texto destina-se exclusivamente à edição 0137].

 

Haicai Brasileiro

 

Edson Iura

 

O haicai durante a Guerra

 

Face ao recente reconhecimento oficial do governo de que imigrantes japoneses e seus descendentes foram perseguidos durante a Segunda Guerra, relembramos a situação do haicai à época. O mestre Nempuku Satô (1898-1979) iniciou a publicação de colunas de haicai em 1933. Este trabalho de divulgação pela imprensa seria interrompido em 1942, quando foi decretado o fechamento dos jornais em língua japonesa no Brasil e proibido o uso público da própria língua japonesa. Neste momento, as atividades haicaístas entraram em colapso. Mesmo assim, Nempuku não perdeu o ânimo e continuou a orientar seus discípulos em todo o país por carta. Como muitos outros, o mestre Gôga Masuda (1911-2008) mantinha reuniões clandestinas de haicai em sua residência. A produção dessas reuniões era enviada a Nempuku para correção. Dois haicais da época:

 

Falar japonês

agora é contravenção –

Dia de Hyôkotsu.*

Gôga Masuda

 

*Hyôkotsu é o nome de haicaísta de Shûhei Uetsuka (1876- 1935), considerado o “Pai da Imigração Japonesa”.  O dia de seu falecimento, 6 de julho, é considerado um kigô de inverno.

 

Não se ouve mais rádio

nem há jornais para ler –

Só o banho de sol.

Gôga Masuda

 

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