Haicai Brasileiro – Temas de Julho
[Este texto destina-se exclusivamente à edição 0129]
Haicai Brasileiro
Francisco Handa
Tempo para compor (7)
Ensinar alguém a compor haicai é tarefa quase impossível. Da mesma forma, não se ensina a um outro a andar de bicicleta. Não obstante, podemos indicar sugestões que podem servir de inspiração. Um erro a ser evitado é transformar o haicai num discurso no campo moral, religioso ou político. Se isso ocorrer, o haicai perde o sentido de sua existência. Mas por um outro viés, o haicai se aproxima de um observador, que também pode participar do acontecimento de maneira discreta. Um haicai pode ter seu lado irônico, como é desenvolvido por estilo. Também pode ser mais seco, quase abrupto. Um outro poderá compor de maneira suave, um tanto lírica. Um outro poderá explorar situações de vulnerabilidade social de determinados segmentos. Tudo poderá vir a ser material de composição, desde que corresponda a uma observação. Aquilo que é observado não se encontra fora do poeta que compõe, mas parte de sua própria existência.
Caso alguém se proponha apenas a trabalhar informações subjetivas, das criações mentais, poderá compor um mundo que não corresponderá à experiência.
HAICAI BRASILEIRO
O Jornal Nippon Já publica aqui os haicais enviados pelos leitores. Haicai é um tipo de poema que se originou no Japão. Seu maior expoente é Matsuo Bashô (1644-1694). O haicai caracteriza-se por descrever, de forma breve e objetiva, aspectos da natureza (inclusive a humana) ligados à passagem das estações. Hoje, no mundo inteiro, pessoas de todas as idades e formações escrevem haicais em suas línguas, atestando a universalidade dessa forma de expressão.
A seleção é feita pelos haicaístas Edson Iura e Francisco Handa.
Escreva até três haicais de cada tema sugerido (o tema deverá constar do haicai), identificando-os com seu nome (mesmo quando preferir usar pseudônimo) e endereço. Cada pessoa pode participar com apenas uma identidade.
Os trabalhos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail ashiguti@uol.com.br, com o assunto: “Haicai Brasileiro”.
TEMAS DE JULHO
Vento cortante – Suinã – Tosse
na fila do caixa
uma velhinha de máscara –
tosse… tosse… tosse…
Benedita Azevedo
Magé, RJ
luz tíbia do sol
na árvore desfolhada
flores da suinã
Carlos Viegas
Brasília, DF
Ecoa na estrada
A tosse do peregrino:
Ida ao santuário.
Cláudio Trasferetti
São Paulo, SP
Casa da praia –
Apenas vento cortante
nas cadeiras do deck.
Cristiane Cardoso
São Paulo, SP
Todos acordados
Bebê com tosse noturna,
De colo em colo…
Didi Tristão
São Paulo, SP
Filhotes de cachorro
enroscados uns nos outros –
Ah, vento cortante
Fernando Bunga
Uíge, Angola
um vento cortante
na entrada do hospital –
sons de sirenes
Fernando Kozu
Londrina, PR
No andar de cima
o acordar da vizinha.
A tosse persiste.
Hoshin Banana
São Paulo, SP
Daqui para a frente
muda o tema da conversa –
Suinã na trilha.
Jonas Reis
Vitória, ES
vento cortante –
até mesmo o cão reclama
no meio da noite
Jurema Rangel
Rio de Janeiro, RJ
Flor em candelabro.
Adornando a suinã
e seus longos galhos.
Lizziane Azevedo
João Pessoa, PB
velhinhos na cama –
reconheço cada tosse
que os lenços abafam
Madô Martins
Santos, SP
Caminhando só
na praia solitária
vento cortante
Mário Azevedo Alexandre
São Vicente, SP
Com praças vazias
só as flores da suinã.
Pássaros rodeiam…
Marli Tristão
São Paulo, SP
Caminho de casa.
Uma tosse insistente
me segue de longe.
Matsuki Pichorim
S. José dos Pinhais, PR
A mendiga sorri
cheia de seus poucos bens –
Suinã em flor…
Mônica Monnerat
Santos, SP
madrugada adentro
a tosse do vizinho –
sono perdido!
Renan Sarajevo
Rio de Janeiro, RJ
Ao sol da manhã
muito mais avermelhados –
Pés de suinã
Taís Curi
Santos, SP
Temas de agosto (postar até 10 de julho)
Cascata seca – Azaleia – Cachecol
Temas de setembro (postar até 10 de agosto)
Mar de primavera – Frésia – Rodeio