Haicai Brasileiro – Temas de Junho

[Este texto destina-se exclusivamente à edição 125]

HAICAI BRASILEIRO

O Jornal Nippon Já publica aqui os haicais enviados pelos leitores. Haicai é um tipo de poema que se originou no Japão. Seu maior expoente é Matsuo Bashô (1644-1694). O haicai caracteriza-se por descrever, de forma breve e objetiva, aspectos da natureza (inclusive a humana) ligados à passagem das estações. Hoje, no mundo inteiro, pessoas de todas as idades e formações escrevem haicais em suas línguas, atestando a universalidade dessa forma de expressão.

A seleção é feita pelos haicaístas Edson Iura e Francisco Handa.

Escreva até três haicais de cada tema sugerido (o tema deverá constar do haicai), identificando-os com seu nome (mesmo quando preferir usar pseudônimo) e endereço. Cada pessoa pode participar com apenas uma identidade.

Os trabalhos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail ashiguti@uol.com.br, com o assunto: “Haicai Brasileiro”.

TEMAS DE JUNHO

Coruja – Ipê-roxo – Quadrilha

grita o animador

cada par guarda da chuva

quadrilha na roça

Alberto Valença Lima

São Paulo, SP

passos apressados

avenida colorida

pelos ipês-roxos

Carlos Viegas

Brasília, DF

subida de terra

poucas flores do ipê-roxo

no chão e no galho

Clênio F. Salviano

Campinas, SP

No toco, a coruja,

olhar perdido no tempo.

Pensando no quê?

Cyro Mascarenhas

Brasília, DF

Ao som da música

a quadrilha se apresenta –

Terreno batido.

Didi Tristão

São Paulo, SP

No galho da mutamba

Imóvel por muitas horas

a coruja-branca

Gisela Maria Bester

Curitiba, PR

voo silencioso

até a torre de uma igreja

– ninho de coruja

Isabel Furini

Curitiba, PR

Passante andarilho –

A corujinha filhote

gira mais o pescoço.

Jonas Reis

Vitória, ES

Noite se aprofunda,

Coruja em voo silente,

Mistério que ronda.

Juliana Sampaio

Magé, RJ

No cerrado seco

Ipê-roxo frondoso

uma aquarela

Kira Luá

Canela, RS

O amor entalhado

no tronco do ipê-roxo.

Sempre florescendo.

Lizziane Azevedo

João Pessoa, PB

menina cresceu –

vestido da quadrilha

agora está curto

Madô Martins

Santos, SP

Em todo ano

florada na estrada

com ipê-roxo

Mário Azevedo Alexandre

São Vicente, SP

Varanda escura

abrigo para as corujas.

Ninguém se arrisca…

Marli Tristão

São Paulo, SP

janela do ônibus –

entre árvores nativas

“um” ipê-roxo

Maurício de Oliveira

São Paulo, SP

aos pares passamos

e também deixamos passar –

quadrilha junina

Renan Sarajevo

Rio de Janeiro, RJ

Chão atapetado

no caminho até a igreja –

Flores de ipê-roxo

Taís Curi

Santos, SP

na foto em sépia –

os avós, ainda jovens

dançam quadrilha…

Vanice Zimerman

Curitiba, PR

Temas de julho (postar até 10 de junho)

Vento cortante – Suinã – Tosse

Temas de agosto (postar até 10 de julho)

Cascata seca – Azaleia – Cachecol

[Este texto destina-se exclusivamente à edição 0125]

Haicai Brasileiro

Francisco Handa

Tempo para compor (6)

Na contramão dos costumes da época, o haicaísta, ao invés de navegar pela internet a maior parte do tempo, seja ao caminhar nas ruas, nos pontos de ônibus, nas compras da feira ou da padaria, estará presente em cada momento através dos cinco órgãos dos sentidos. A relação orgânica com os acontecimentos, seja observando, sentindo o odor, o paladar, o calor ou o frio na pele, são informações necessárias para compor haicai. Neste momento, se aproxima de um cronista social. Observar a realidade em sua ambiguidade serve de material para a composição, que se constitui neste momento pelo uso da linguagem. A linguagem e o seu conhecimento na transmissão de sentimentos e beleza permitem dar forma ao haicai. Por isso, conhecer o mundo é passo importante, que se completa com seu acabamento em forma de haicai.

Tentar reproduzir um acontecimento, talvez uma observação, num haicai da maneira experimentada, não se realiza, nem é este o propósito. No momento da composição, a linguagem haverá de se modificar, criando um haicai original e inesperado.

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