Haicai Brasileiro – Temas de maio
[Este texto destina-se exclusivamente à edição 123]
HAICAI BRASILEIRO
O Jornal Nippon Já publica aqui os haicais enviados pelos leitores. Haicai é um tipo de poema que se originou no Japão. Seu maior expoente é Matsuo Bashô (1644-1694). O haicai caracteriza-se por descrever, de forma breve e objetiva, aspectos da natureza (inclusive a humana) ligados à passagem das estações. Hoje, no mundo inteiro, pessoas de todas as idades e formações escrevem haicais em suas línguas, atestando a universalidade dessa forma de expressão.
A seleção é feita pelos haicaístas Edson Iura e Francisco Handa.
Escreva até três haicais de cada tema sugerido (o tema deverá constar do haicai), identificando-os com seu nome (mesmo quando preferir usar pseudônimo) e endereço. Cada pessoa pode participar com apenas uma identidade.
Os trabalhos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail ashiguti@uol.com.br, com o assunto: “Haicai Brasileiro”.
TEMAS DE MAIO
Cambuci – Sanhaço – Lua Cheia
Sanhaço pousado,
Canta na manhã serena,
Natureza em paz.
Andara Almeida
Manaus, AM
bando de sanhaços
devora as frutas maduras –
restos pelo chão
Benedita Azevedo
Magé, RJ
espiadas lá fora
em meio ao compromisso –
noite de lua cheia
Daniel Morine
Santos, SP
Hoje são três.
Sanhaços tão azuis
bicam a banana.
Danita Cotrim
São Paulo, SP
Noite de lua cheia –
O dono do cachimbo aceso
cochila na rede
Fernando Bunga
Uíge, Angola
manto da noite
revela a lua cheia –
espelho no mar
Glaussim
Santana do Paraíso, MG
pomar de manhã
alguns sanhaços azuis
em idas e vindas
José Marins
Curitiba, PR
velas apagadas –
o fulgor da lua cheia
clareia o altar
Jurema Rangel
Rio de Janeiro, RJ
Apago a luz
para a lua cheia entrar.
Somos só nós dois.
Lizziane Azevedo
João Pessoa, PB
Rua deserta
A lua cheia nos olhos
do guarda noturno
Marina Rehfeld
Belo Horizonte, MG
lua cheia –
na grande escuridão
o lindo brilho
Marisa di Giaimo
Caraguatatuba, SP
Mercadão de frutas
cambuci chama atenção.
Forma inusitada…
Marli Tristão
São Paulo, SP
A velha amiga
em meu caminho de casa.
Lua cheia plena.
Matsuki Pichorim
S. José dos Pinhais, PR
Visita ao pomar –
Os olhares curiosos
aos cambucis caídos
Mônica Monnerat
Santos, SP
o brilho das telas
esquecido por instantes –
ah, lua cheia!
Renan Sarajevo
Rio de Janeiro, RJ
Na feira orgânica,
adquiro cambucis,
pra lembrar da infância.
Reneu Berni
Goiânia, GO
No tacho de cobre
geleia de cambuci –
Outra vez a infância
Taís Curi
Santos, SP
de manhãzinha –
na banana madura
pousa o sanhaço
Vanice Zimerman
Curitiba, PR
Temas de junho (postar até 10 de maio)
Coruja – Ipê-roxo – Quadrilha (junina)
Temas de julho (postar até 10 de junho)
Vento cortante – Suinã – Tosse
[Este texto destina-se exclusivamente à edição 0123].
Haicai Brasileiro
Edson Iura
Suinã (tema de julho)
Durante os dias secos e ensolarados do inverno, saltam à vista, na paisagem do campo e nas praças da cidade, árvores de troncos escuros e retorcidos, completamente sem folhas. Suas pontas adornadas por cachos de flores vermelhas em forma de candelabro atraem colibris e abelhas. Trata-se da suinã, árvore típica da Mata Atlântica, cuja altura atinge cinco metros, sendo representada por várias espécies do gênero Erythrina. O nome suinã vem do tupi e quer dizer “pequeno bico de papagaio”, aludindo à imagem que os indígenas faziam das pontas rubras. Desde cedo as chamativas flores cativaram a atenção dos imigrantes japoneses radicados no Brasil. Um deles, o botânico Goro Hashimoto (1913-2008), chegou a adotar o nome “Suinan” como sua alcunha de haicaísta.
Como fosse o sangue
ardente da juventude
flores de suinã.
Hatsune Kawaai
Flores de suinã.
Verdes ondas encrespando
o lago de carpas.
Rinko Katayama