Telucazu lança livros de poesia e haicai de colaboradores do Nippon Já

Francisco Handa e Edson Iura durante visita ao Nippon Já

O primeiro livro individual do monge Francisco Handa, um dos fundadores do Grêmio Haicai Ipê – grupo pioneiro no estudo do gênero no Brasil – versa sobre poesia. Segundo ele, trata-se de um projeto antigo e que foi ganhando forma – e conteúdo – ao longo do tempo. “Seria mais fácil soltar de haicai primeiro”, admite. Mas não era isso que o deixaria pleno.

Doutor em História Social pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e colaborador do Nippon Já – onde mantém uma coluna quinzenal sobre haicai – Handa conta que “A Caminho de Budapeste” (Telucazu Edições), é um resgate de toda a sua juventude, quando começou a ler poetas como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade e, mais recentemente, Fernando Pessoa. Para o autor, tudo tem seu momento certo. E o momento, agora, era para a poesia. Ou como ele mesmo diz na contracapa: “Compor poemas é aprender a envelhecer”.

O “estalo” veio durante a pandemia, quando sentiu que era hora de “retomar o tema”. “Não queria que fossem palavras jogadas ao vento, não é o meu estilo”, diz Handa, explicando que o primeiro livro é “marcante”. “É muito complicado porque é algo que te marca profundamente. E essas marcas podem ser positivas ou negativas”, afirma, acrescentando que a ideia mesmo era “quebrar paradigma que descendentes de orientais não sabem escrever livros de poesias”. “Nem de ficção”, completa.

Para ele, o gênero não é “tão livre” como se pode imaginar. “Poesia é uma das formas de linguagem e de representação onde você também trabalha a estrutura e a forma”, comenta Handa, para depois ele mesmo sugerir: “A beleza está na ausência, em não completar tudo. A palavra é ambígua”, define Francisco Handa, que espera, assim, abrir as portas para que surjam novos poetas nikkeis.

 

Haicai – Também da Telucazu, “O Mendigo Sonha”, é fruto de 30 anos de atividades do paulistano Edson Iura no campo do haicai (poema de origem japonesa). A obra, o seu primeiro dedicado ao gênero, reúne uma seleção de 120 haicais publicados ao longo dessas três décadas no jornal Nippon Já e na Revista Brasil Nikkei Bungaku.

Também de Edson Iura, vem o premiado “Cesto de Caquis – notas sobre haicai”. Vencedor do Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2022. Um dos mais prestigiados do Brasil, o Prêmio Literário Biblioteca Nacional recebe inscrições de autores de todo o país. As obras são analisadas por uma comissão julgadora composta por 24 jurados, sendo 3 jurados em cada categoria, todos ligados ao setor cultural, com notório saber e reconhecimento em suas áreas. “Cesto de Caquis” foi o vencedor na categoria Ensaio Literário, o que, de acordo com o próprio autor, “é ainda mais surpreendente”.

“Cesto de Caquis”, diferentemente de “O Mendigo Sonha”, é um livro que “fala” sobre haicai. Ou seja, não é de haicai. “São textos que escrevi ao longo de 10 a 15 anos refletindo minha vivência com o haicai. Fiquei surpreso com o prêmio porque é um livro de leitura fácil”, diz Iura, explicando ainda que “Cesto de Caquis” é uma das raras obras premiadas nacionalmente sobre o gênero.

(Aldo Shiguti)

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