Comunidade nikkei lamenta morte de ex-premiê, Shinzo Abe

O ex-premiê Shinzo Abe durante sua visita ao Bunkyo, em 2014 “Amigo do Brasil” (Foto: Jiro Mochizuki)

Mais que um líder mundial, o ex-primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, assassinado no último dia 8, era considerado “um grande amigo do Brasil”. Não à toa,, o crime causou comoção também na comunidade nikkei, especialmente daqueles que tiveram oportunidade de conhecê-lo pessoalmente por ocasião de sua visita ao Brasil, entre 31 de julho e 2 de agosto de 2014, quando cumpriu uma série de compromissos, incluindo reuniões com a ex-presidente Dilma Rousseff, e o então governador de SP, Geraldo Alckmin.

Na oportunidade, Shinzo Abe foi recepcionado no Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – pela comunidade nikkei e se reuniu com lideranças e políticos nikkeis, entre eles, os ex-deputados federais Walter Ihoshi e Junji Abe.

Deputado por três mandatos, Walter Ihoshi lamentou a morte de um “grande líder, que propiciou o fortalecimento das relações bilateriais Brasil-Japão quando ele foi primeiro-ministro”. “Me lembro que, quando ele esteve no Bunkyo, foi lançado o Programa Juntos, que possibilitou o fortalecimento do intercâmbio entre o Brasil e o Japão, principalmente entre os jovens”, disse Ihoshi, que também teve oportunidade de se encontrar com o ex-premiê em 2016, quando de sua visita ao Japão, acompanhando a comitiva oficial do então presidente Michel Temer ao país nipônico. “Foi um dos mais longevos primeiro-ministro do Japão, tanto que foi reconduzido ao cargo”, explicou Ihoshi.

Enorme prejuízo – Para Junji Abe, a morte de Shinzo Abe foi um “enorme prejuízo para as relações bilaterais”. “Hoje nós vivemos uma tristeza imensa que as palavras não conseguem expressar”, lamentou Junji, afirmando que o ex-primeiro-ministro era, acima de tudo, “um amigão do Brasil”.

O ex-parlamentar conta que Shinzo Abe assumiu quando o Japão estava passando por um período “de desequilíbrio econômico e social”. “Ele praticamente iniciou seu mandato reerguendo a economia japonesa e com seu plano já consolidado, começou a visitar os países amigos, colocando na rota o Brasil”, disse.

“Em 2014, quando tive o privilégio de presidir o Grupo Parlamentar Brasil-Japão, o presidente da Câmara dos Deputados pediu para que eu representasse o Congresso. Extremamente simpático ele colocou os pontos exatos da relação Brasil-Japão. Lembro que, durante sua visita ao Congresso ele disse que, apesar das relações entre governos, o que realmente alicerça a nossa relação é a amizade e destacou a importância de associações e entidades como o Bunkyo, Enkyo e Kenren e que nós, políticos, tínhamos um papel fundamental nessa relação”, destacou Junji Abe, afirmando que, em reposta, disse que o Brasil deve muito ao Japão, citando como exemplo o Cerrado, a Usiminas, a despoluição da Baia da Guanabara, no Rio de Janeiro, e o alargamento da calha do rio Tietê. “Sem contar o carinho que o povo e o governo japonês têm pelos dekasseguis”, afirma Junji Abe.

Grave reflexão – O assassinato repercutiu também na nova geração de políticos, como o deputado federal Kim Kataguiri, que não teve oportunidade de conhecer pessoalmente o ex-premiê. Segundo Kataguiri, “Abe soube dar às relações com o Brasil a devida importância”.

“Cumpre destacar que Abe liderou o Japão em um período de aprofundamento das relações com o Brasil. O grande contingente de imigrantes brasileiros, a crescente importância da Ásia nas relações comerciais e o enorme sucesso japonês no setor tecnológico e industrial fazem do Japão uma prioridade na política externa”, comenta o parlamentar, que considerou o assassinato “lamentável”. “A ocasião pede uma grave reflexão acerca da violência política, que é sempre um risco, ainda mais nos períodos turbulentos que vivemos”, concluiu Kim Kataguiri.

Para o atual presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, deputado federal Luiz Nishimori (PSD-PR), “não só o Japão, mas o mundo perde um grande líder político”. “Shinzo Abe contribuiu muito nas questões políticas, econômicas, sociais, de amizade, de diplomacia, e relativas à comunidade nipo-brasileira. Posso dizer que, após todos estes anos de trabalho, o considerava um grande amigo político. Tive a oportunidade de estar com ele em vários momentos, foi uma pessoa ímpar e muito competente”, lamentou Nishimori, afirmando que, “a democracia foi atingida por este ato de violência”.

Igualdade – Não só os políticos como também as lideranças lamentaram a perda. Para Kihatiro Kita, que presidiu o Bunkyo entre 2013 e 2015, “as lembranças que ficam são a de um grande político, de uma grande liderança mas, acima de tudo, de uma pessoa humilde”.

“Não só o Japão e o Brasil, mas o mundo perde uma grande referência. A sua visita em 2014 foi muito importante para as relações entre os dois países e também para os países da América Latina. O que mais me marcou é o fato de que em seus discursos ele sempre fazia questão de mostrar que todos somos iguais e sempre agiu no sentido de integrar os países latino-americanos. É esse sentimento de igualdade que fica na memória”, conta Kita.

Juntos! – Para o atual presidente do Bunkyo, Renato Ishikawa, a morte de Shinzo Abe “nos entristece muito”. “Estamos ainda em choque. É surpreendente da forma como aconteceu, em pleno século 21 e em um país como o Japão, totalmente pacífico. Jamais poderíamos esperar uma tragédia desta natureza”, disse Ishikawa, acrescentando que “o Japão deve muito a Shinzo Abe”. “Ele deu estabilidade política e também foi responsável por reerguer a economia do país”, explicou Renato Ishikawa, lembrando também que, em 2014, a então primeira dama do Japão, Akie Abe – esposa de Shinzo Abe – visitou as instalações do Hospital Japonês Santa Cruz, na zona Sul de São Paulo. ”O Shinzo Abe nos deixa um grande legado, em que destacava a importância dos não descendentes e dos jovens para a manutenção da cultura japonesa. Tanto que o Japão passou a aceitar também candidatos não nikkeis para seus programas de estágios”, diz Ishikawa, acrescentando que se inspira muito no discurso do ex-premiê sobre progredir, liderar e inspirar, juntos.

 

 

Deixe uma resposta