Candidato à reeleição, Kim Kataguiri conta que superou preconceito por ser jovem e conquistou respeito estudando

Lançamento da campanha à reeleição aconteceu na Associação Hokkaido com a presença de jovens (Foto: Aldo Shiguti)

 

O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) escolheu a Associação Hokkaido de Cultura e Assistência, na Vila Mariana (zona Sul de São Paulo), para lançar sua campanha à reeleição. Realizado no último dia 27, o evento contou com a presença do ex-deputado estadual Arthur do Val e Renan Santos, fundador e um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre (MBL) – do qual o próprio Kim é cofundador – além dos candidatos a deputado estadual Guto Zacarias, Amanda Vettorazzo e Renato Battista.

O público, formado majoritariamente por jovens de até 30 anos e pouquíssimos descendentes de japoneses, se divertiu com os bem humorados jingles de sua campanha.

Antes da apresentação, Kim atendeu a reportagem do jornal Nippon Já e fez um balanço de seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados. Eleito em 2018 com 465.310 votos – foi o 4º mais votado do Estado de São Paulo – Kim se tornou o deputado mais jovem a tomar posse na história. E, como ele mesmo diz, aprendeu muito.

“No Parlamento você tem uma oportunidade única de ter contato com os melhores especialistas em todos os setores que você escolher. No meu caso busquei ter uma atuação mais forte na economia, nas questões de justiça, na legislação administrativa e penal, tanto no combate à corrupção como redução de salário do funcionalismo público, principalmente o que está concentrado em Brasília”, conta o parlamentar, explicando que abriu mão dos privilégios a que todos os 513 deputados têm direito – como carro oficial, segurança, motorista, alimentação e vale-mudança, entre outros benefícios – o que, para ele, deveria ser uma obrigação de todos os parlamentares.

“Tentei fazer muito do que aprendi com meu pai, de me tentar guiar e liderar pelo exemplo”, diz Kim

 

Produção – Eleito pela revista ‘Time’ em 2015 um dos jovens mais influentes do mundo na época, Kim observa que a função do Parlamento não é executar orçamento. “A função do Parlamento é legislar e fiscalizar. São duas coisas que foquei meu mandato”, diz, lembrando que nos primeiros 4 anos conseguiu aprovar 57 relatórios, 37 emendas 4 projetos de lei – nos próximos dias deve aprovar o quinto, sobre Marco Legal dos Games,  que regulamenta a fabricação, a importação, a comercialização e o desenvolvimento de jogos eletrônicos no país.

“Um dos relatórios foi sobre um acordo aduaneiro com o Japão para que possamos combater o tráfico de armas e drogas a pedido do então embaixador do Japão, Akira Yamada”, destaca, referindo-se ao acordo entre os Governo do Brasil e do Japão sobre assistência administrativa mútua e cooperação em assuntos aduaneiros, assinado em Brasília, em 2017. O acordo foi aprovado pela Câmara dos Deputados em dezembro do ano passado, com parecer favorável do deputado Kim Kataguiri ao Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 568/19, e pelo Senado Federal em 6 de maio. O objetivo do tratado é promover a cooperação entre as administrações aduaneiras para garantir a aplicação correta da legislação do setor e a segurança da cadeia logística internacional, bem como para prevenir, detectar, investigar e combater infrações, como tráfico ilícito de entorpecentes, armas e munições.

Sobre as emendas acatadas em outros projetos de lei – uma das principais foi na Lei de Diretriz Orçamentária de 2020 para barrar o aumento do fundo eleitoral de 2 bilhões de reais para 3,7 bi. “Ou seja, a gente conseguiu preservar 1,7 bilhão”, diz Kim, afirmando que, especificamente sobre a comunidade japonesa procurou atender “tudo que me foi trazido”.

 

Representatividade – “Em 2019 intermediamos junto ao Ministério da Cultura para promover o Festival do Japão em uma questão burocrática, uma dificuldade que os organizadores do Festival estavam tendo na época”, lembra, acrescentando que “a maior demanda da comunidade hoje, na minha opinião, é mesmo se sentir representada dentro do parlamento e no Estado de São Paulo, além de alguém que conheça as demandas e que faça essa interlocução com o Japão”, explica.

Ainda no quesito Japão, Kim Kataguiri conta que em 2019 fez uma viagem ao Japão que “trouxe bons frutos para o Brasil, como a abertura do mercado nipônico para produtos brasileiros, como a carne bovina, frutas e ovos fertilizados”. Mas, segundo ele, ainda há muito a ser feito no que se refere à relação entre as duas nações, entre elas, o visto para yonseis – descendentes de japoneses da quarta geração – e o visto de turismo para brasileiros.

“O que tenho visto é que existe uma limitação de até onde o Consulado e a Embaixada aqui no Brasil conseguem atuar e o que só o Parlamento japonês consegue solucionar. E isso foi uma coisa que levei um certo tempo para aprender”, diz, afirmando que “tentei fazer muito do que aprendi com meu pai, de me tentar guiar e liderar pelo exemplo”.

 

Preconceito – Isso porque, conforme Kim explica, “sentiu um certo preconceito” em relação à idade – quando assumiu seu primeiro mandato estava com 22 anos. “Existe uma certa dúvida sobre sua capacidade, de achar que você vai ser mais um voto a ser levado pelo líder do partido”, “Então existe essa barreira a ser vencida, mas acho que, estudando, se especializando e mostrando que você tem um conhecimento da matéria – que, infelizmente, é uma coisa que a maior parte do parlamentares não tem, independentemente da idade –, você acaba ganhando respeito e se tornando uma referência. É uma das maneiras de você ganhar poder lá dentro que vai para além de ser um voto entre 513, é você se tornar uma referência em determinadas votações. Essa foi a maior barreira que eu consegui avançar em relação ao ceticismo dos parlamentares mais velhos”, explica.

 

Animes e mangás – Nascido na cidade de Salto, mas criado em Indaiatuba – cidades do interior de São Paulo – Kim explica que desde a sua militância pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff até ser eleito parlamentar, “toda a minha construção foi no sentido de mostrar que me dedico e estudo o máximo possível para debater as coisas com propriedade”.

“Todo o resto, o gosto pelos animes, mangas e games, é uma coisa que já trabalhei e fui expondo aos poucos. Acho que uma coisa do japonês é não se abrir muito, mas aos poucos também estou vencendo essa resistência e mostrando mais dos meus gostos pessoais e da minha família, mas tudo isso foi depois de já ter conquistado um respeito pelo conteúdo”, garante, afirmando que acha difícil repetir a votação que obteve em 2018.

“Aquele ano foi minha primeira eleição, mas em 2014, 2016 e 2020 trabalhei nas eleições e toda vez que chutei a quantidade de votos que os candidatos iam ter eu errei. Então, nem tento mais porque sei que não vou acertar”, brinca, explicando que, “todo mundo que ouvi falar que em 2018 estava eleito, perdeu”. E cita como um “caso emblemático o do ex-deputado Ulysses Guimarães (1916-1992). “Todo mundo achava que ele já estava eleito e ele sempre acabava encontrando muita dificuldade por isso”, justifica.

 

Orçamento secreto – Apesar disso, acha que em 2022 não vai haver uma grande renovação na Câmara dos Deputados em razão do orçamento secreto. “Em 2020 foi feito um levamento que apontou que 80% das Prefeituras que receberam a RP 9, o chamado orçamento secreto, os prefeitos foram reeleitos e isso fortaleceu muito os parlamentares que já estão lá, criando uma disputa muito desigual entre quem recebe o orçamento para quem está disputando a eleição agora ou quem não recebe, como é o meu caso”, diz, acrescentando que, “infelizmente, quando a maior parte da população, que é muito pobre, vê um parlamentar levando asfalto ou inaugurando uma obra, acha que aquilo é a função do parlamentar porque desconhece a função do parlamentar, que é legislar e fiscalizar. E nas eleições presidenciais, tenho dito que faço oposição a ambos, Bolsonaro e Lula. No primeiro e segundo turnos vou anular meu voto porque não faria o menor sentido eu votar em alguém que no dia seguinte vou estar fazendo oposição. Acho que essa será uma das eleições, infelizmente, mais violentas que a gente já teve, sendo que em 2018 já foi bastante acirrada”, concluiu Kim, afirmando que o brasileiro deixa para decidir seu voto na última hora.

(Aldo Shiguti)

 

 

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1 comentário
  1. Stefan Diz

    Melhor deputado da última década e da próxima. Presidente eleito em 2034.