Candidatos nikkeis chegam ‘confiantes’, ‘animados’ e ‘motivados’ para os últimos dias da campanha eleitoral

Delegada Raquel, George Hato, Hélio Nishimoto e Walter Ihoshi: eleição histórica e motivação na reta final

 

No próximo domingo, 2 de outubro, 156.454.011 brasileiros irão às urnas para eleger o novo presidente, governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais. No Estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, 34.667.793 eleitores estão aptos a votar. Não à toa, São Paulo também é o estado campeão em candidaturas. Este ano, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são 1540 registros de candidatos a deputado federal e 2.059 a deputado estadual. Desse universo, 31 nikkeis buscam uma das 513 vagas para a Câmara dos Deputados e outros 35 concorrem à Assembleia Legislativa paulista. Um número semelhante à eleição de 2018, quando 32 candidatos das comunidades asiáticas concorreram a deputado federal e 27 a deputado estadual.

Para os candidatos nikkeis entrevistados pelo Nippon Já, no entanto, nem a pulverização de candidaturas nikkeis nem a polarização entre duas forças antagônicas para o cargo de presidente – que acaba deixando a disputa para os demais cargos em segundo plano – tiram o clima de otimismo e confiança. É o caso de vereador George Hato, que nesta eleição busca uma cadeira na Assembleia paulista, onde seu pai cumpriu dois mandatos consecutivos. Para George, as eleições deste ano estão muito diferentes de todas as outras, mas em função da polarização para o cargo de presidente. Ele, no entanto, não acredita que o fato interfira na sua campanha porque o seu foco é divulgar o trabalho que vem realizando em São Paulo, “pelo esporte como prevenção de doenças e por uma saúde mais humanizada”.

“As nossas propostas são para dar mais qualidade de vida e bem-estar para a população e isso é uma pauta que não é nem de esquerda, nem direita, é de todos. Nosso projeto pela medicina preventiva é para toda a população”, diz George, explicando que o eleitor hoje está mais consciente.

 

Renovação – “Estou confiante que vamos conseguir chegar à Assembleia Legislativa. O eleitor hoje está mais consciente de que o seu voto pode transformar a sociedade e está pesquisando mais sobre os candidatos, suas propostas e seus aliados. Acredito que teremos uma renovação muito grande na Alesp e que faremos um time muito bom para lutar por uma São Paulo com mais oportunidades e mais qualidade de vida”, conta.

Para Hélio Nishimoto, que este ano busca uma vaga na Câmara dos Deputados, a eleição promete ser bastante concorrida e difícil para os candidatos. “A polarização entre Bolsonaro e Lula prejudica um pouco o debate democrático com o ingresso de mais candidatos e suas idéias”, admite Nishimoto, afirmando que chega na reta final “agradecido e animado, como sempre”. Segundo ele, “a demonstração de respeito e carinho foram marcantes em minha caminhada para divulgar minhas propostas, tanto presencialmente como nas redes sociais”.

 

Marco – Presidente licenciada do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) e candidata a deputada estadual pela primeira vez, Raquel Kobashi Gallinati acredita que essa eleição será um marco para o Brasil.

“O país teve governos de esquerda e agora tem o governo Bolsonaro, de direita. Os dois modelos já são conhecidos, agora o país vai escolher entre as pautas de direita, da família, da liberdade do cidadão, e a esquerda, com a ideologia, de gênero, liberação do aborto, proibição de armas para que o cidadão possa defender sua casa e os casos de corrupção que marcaram o governo Lula. Essa polarização veio também para São Paulo, onde a disputa será entre PT e Tarcísio. Como policial, defensora da segurança pública e da legalidade, eu me posicionei ao lado da direta, do Bolsonaro e Tarcísio, porque a nossa obrigação ao entrar na política é ter uma posição clara e firme”, destaca a delegada, explicando que, “apesar das provocações da esquerda, felizmente conseguimos trabalhar com tranquilidade”.

 

Exacerbados – Parlamentar por três mandatos e em busca de seu quarto mandato como deputado federal, Walter Ihoshi concorda que a polarização deixou alguns eleitores mais “exacerbados”.  Assim como a Delegada Raquel, conta que, ao longo das visitas que realizou, evitou entrar nessa polarização. “Nós falamos mais das nossas propostas, falamos sobre os compromissos que temos com cada um dos nichos que a gente atua, seja na comunidade nipo-brasileira, seja na região de Marília, seja na região do Vale do Ribeira, nas associações comerciais ou com empreendedores. Ou seja, com o público que a gente atua nós temos trabalhado mais falando do que nós já fizemos e do que nós vamos fazer em termos de propostas”, conta Ihoshi, lembrando que recebeu apoio de muitas lideranças.

 

Apoios – “Na comunidade nipo-brasileira, o vereador Aurélio Nomura apoiou nossa parceria com o George Hato, candidato a deputado estadual, mostrando que a nossa comunidade está unida e ciente de que precisa de representação efetiva tanto na Câmara dos Deputados como na Assembleia. Recebemos ainda outros apoios importantes, como a do ex-deputado William Woo e do também ex-deputado federal Junji Abe, através do seu filho, Giuliano Abe, que gravou um vídeo de apoio na região do Mogi das Cruzes e do Alto Tietê. O apoio dessas lideranças, bem como o apoio da vereadora Edir Sales, na região Leste da capital, e a consolidação do nosso trabalho na região de Marília, fortalecem também muito a nossa posição e nos traz muita força nessa reta final”, conta Ihoshi.

 

Pesquisa – Raquel Gallinati também destaca o apoio que recebeu durante sua campanha que, segundo ela, foi “limitada em termos de recursos”. “Receber o apoio de pessoas que pesquisaram a minha história, viram as minhas propostas e acreditaram nesse projeto é realmente muito gratificante”, afirma a delegada.

Hélio Nishimoto conta que também percebeu que o eleitor está pesquisando mais sobre seu candidato. “Percebi sim que aumentou o interesse e a consciência de fazer as melhores escolhas para ter bons representantes políticos em São Paulo e em Brasília”, diz.

Para George Hato, “São Paulo tem a maior comunidade nikkei do mundo fora do Japão e precisa de uma bancada forte que a represente, apoiando os eventos e a cultura japonesa, que já faz parte da paisagem do nosso estado”. “Meu pai, o saudoso deputado Jooji Hato, sempre representou a comunidade japonesa durante sua vida pública e hoje dou continuidade a esse trabalho na Câmara Municipal e sempre terei esse compromisso, independentemente do cargo que ocupar”, diz George.

 

Fórum Permanente – A preocupação de eleger representantes nikkeis que efetivamente representem os interesses da comunidade parece, enfim, ter despertado as associações e entidades, que se mobilizaram e devem criar um Fórum Permanente nesse sentido.

Para George Hato, a iniciativa é “ótima”. “Um mandato se faz com a participação da população. Quando temos entidades mobilizadas e unidas em prol de um objetivo em comum, fica mais fácil e assertivo para o parlamentar trabalhar pelas demandas da comunidade. Juntos sempre somos mais fortes”, destaca.

A mobilização também agrada o candidato Hélio Nishimoto. “Acho essa iniciativa excelente e eu sempre defendi essa postura de nossas lideranças nikkeis, pois dessa forma aumentamos muito as chances de elegermos representantes em todas as esferas”, garante.

Para Raquel Gallinati a ideia é “muito positiva”. “Quanto mais a nossa comunidade estiver unida, mais vamos conseguir preservar e divulgar a nossa cultura. Um Fórum Permanente vai ajudar muito no projeto de retomada das atividades pós pandemia, principalmente nas associações de cidades menores, que ainda não conseguiram se reerguer. Também é muito importante organizar prioridades, como a aproximação dos jovens, recuperação financeiras das entidades e programação de um calendário integrado de eventos para todo o Estado”, justifica.

 

Semente – Walter Ihoshi não só apoia como lembra que a iniciativa surgiu com o ex-deputado estadual Hatiro Shimomoto (1935-2021), idealizador do Simpósio do Movimento Político Nikkei, que chegou a nove edições. “Esses encontros, alguns realizados durante a pandemia, tiveram não só nossa participação como também o nosso apoio. Acho que ele plantou uma semente e a comunidade aos poucos começou a criar uma consciência da necessidade desta representatividade. É importante que as entidades tenham consciência dos políticos que realmente têm vínculos e compromissos com a comunidade”, diz Ihoshi, acrescentando que, além de apoiar as iniciativas da comunidade nikkei, também tem entre suas bandeiras projetos em prol da saúde, emprego e renda e o fortalecimento das relações bilaterais, além de contar com sua experiência adquirida à frente da Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo), órgão considerado “travado” e que Ihoshi desburocratizou e promoveu a transformação digital e ajudou a melhorar o ambiente de negócios.

 

Propostas – George Hato, que carrega a bandeira do “mais esporte, menos remédio”, acredita que “o povo japonês é um exemplo para nós, de que a prática diária de exercícios traz mais saúde para a sociedade”. “Não é à toa que o Japão é o país com maior número de pessoas com mais de 100 anos, e que chegam a essa idade ativos e saudáveis. Por isso, nosso foco é criar espaços para práticas esportivas, além de investir nos equipamentos de saúde pública para termos um atendimento mais humanizado para toda a população”, conta.

Para Hélio Nishimoto, “é importante para o Brasil acertar os rumos da situação econômica para que os serviços públicos melhorem”. “Para isso precisamos atualizar as leis que tratam dos impostos e das relações trabalhistas. Alguns produtos precisam ter isenção ou grande redução de impostos, a exemplo dos remédios e produtos da cesta básica”, diz.

 

Segurança – Além das propostas para as comunidades orientais, Raquel Gallinati conta que leva em consideração seu trabalho na área de segurança pública, onde atua como delegada de polícia há 10 anos. “Investir em segurança, equipando as polícias para que elas possam cumprir seu papel, é fundamental para a nossa população, que está cansada de viver à mercê da criminalidade. Também vamos atuar fortemente na defesa das vítimas de violência, principalmente crianças e mulheres vítimas de violência doméstica. É obrigação do estado defender essas pessoas, que muitas vezes sofrem caladas por não ter quem as defenda. Em uma visão mais ampla, pretendo trabalhar sobre pautas que protejam nossos valores, como a ética, a honra e a família”, destaca Raquel, que espera que os eleitores votem de forma consciente no domingo.

Hélio Nishimoto acredita que os “eleitores tem nesta eleição a oportunidade de elegerem mais representantes nikkeis para promovermos a cultura japonesa e os trabalhos sociais em São Paulo; “além de continuarmos contribuindo com o crescimento do nosso estado”.

(Aldo Shiguti)

 

 

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