Fundação Kunito Miyasaka: 25 anos apoiando a comunidade nipo-brasileira

Desde que foi inaugurado, em 2018, Parque Ecológico Imigrantes já recebeu mais de 15 mil visitantes Presente da comunidade japonesa à sociedade brasileira – Divulgação

 

Fundada em 21 de outubro de 1998, a Fundação Kunito Miyasaka vem contribuindo, desde a sua criação, para a integração entre o Brasil e o Japão, apoiando, preservando e promovendo causas humanitárias, culturais, sociais, esportivas e ambientais. Nessas duas décadas e meia de existência, a FKM já patrocinou mais de 100 publicações de livros, apoiou – e continua apoiando – matsuris (festivais japoneses) espalhados pelo país, eventos esportivos e culturais, além de ajudar mensalmente entidades assistenciais como a Associação Pró-Excepcionais Kodomo-no-Sono, a Sociedade Beneficente Casa da Esperança “Kibô-no-Iê” e a Assistência Social Dom José Gaspar Ikoi-no-Sono.

Mas ao invés de festa para celebrar a data, a atual Diretoria da FKM optou por fazer uma ação social, como é do DNA da fundação.

Investir em projetos da comunidade nipo-brasileira sempre foi o propósito da fundação. Em 1998, preocupado com os rumos da comunidade com a iminente venda do Banco América do Sul – outro ícone da comunidade japonesa – e já com o encerramento das atividades da Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC) e a Sul Brasil – duas das grandes patrocinadoras dos projetos da comunidade nipo-brasileira ao lado do próprio BAS – o então presidente da instituição, Kohei Denda, propôs a criação de uma associação com essa finalidade.

No entanto, o advogado que assessorou a venda do BAS, Ary Oswaldo Mattos Filho, sugeriu a criação de uma fundação ao invés de associação porque, sendo uma fundação o patrimônio se torna um bem público e sua finalidade sempre será atender os interesses sociais.

“Na época, o patrimônio que veio para a fundação era composto por algumas fazendas e empresas comerciais, que não interessavam ao banco comprador. Até consolidar esse patrimônio levamos uns dez anos”, lembra o atual presidente da FKM, Roberto Yoshihiro Nishio, que iniciou sua trajetória no banco em 1958, na agência de Assaí (PR) – sua terra natal – e onde se aposentou, em 1998.

Roberto Nishio e Márcio Koiti Takiguchi em visita ao Nippon Já

Patrocínios – A história de Nishio, aliás, terceiro presidente da fundação, se confunde com a própria história da FKM. Inicialmente como vice-presidente de Luiz Marcelo Dias Salles, ex-presidente da agência de publicidade Salles D’Arcy e filho de Apolônio Jorge de Faria Salles, que além de ter sido um grande amigo de Kunito Miyasaka, foi presidente do Banco América do Sul, senador e ministro da agricultura no governo do presidente Getúlio Vargas. Depois de Luiz Salles veio Antônio Rosa Neto, que ficou até 2013, quando Nishio assumiu. De lá para cá, foram dez anos à frente da FKM – foi reeleito para seu quinto mandato em abril deste ano.

Nishio deixa claro que a FKM foi constituída com o objetivo principal de auxiliar as entidades nipo-brasileiras para o desenvolvimento de suas atividades. Por isso, a fundação só apoia projetos apresentados por entidades ou associações. “Não contribuímos com projetos pessoais”, assegura Nishio.

“Além de ajudar mensalmente as três entidades assistenciais (Kibô-no-Iê, Ikoi-no-Sono e Kodomo-no-Sono), também contribuímos com alguns projetos pontuais. Contribuímos também com o Hospital Japonês Santa Cruz e, na parte cultural, contribuímos com o Bunkyo, sendo que o Pavilhão Japonês e o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil também recebem recursos mensalmente”, diz Nishio, lembrando que a FKM também patrocina atividades como o Bunka Matsuri – Festa da Cultura Japonesa, e o Sakura Matsuri – Festival das Cerejeiras Bunkyos, realizado anualmente no Parque Bunkyo Kokushikan, em São Roque (SP), entre outras ações.

Para ser contemplado pela FKM, o projeto precisa atender alguns pré-requisitos, como ser uma entidade da comunidade nipo-brasileira. O primeiro filtro cabe ao superintendente. Caso passe por seu crivo, o projeto é encaminhado então para a análise do Conselho Diretor.

PEI recebe visitas monitoradas aprendizado

Parque Ecológico – Além de patrocinar eventos culturais, lançamentos de livros e entidades assistenciais, a Fundação Kunito Miyasaka também mantém o Parque Ecológico Imigrantes (PEI). Localizado no coração da Mata Atlântica, ás margens da Rodovia dos Imigrantes (km 33), o PEI ocupa uma área de 480 mil m² de mata preservada.

“Inaugurado em dezembro de 2018, o parque iniciou suas atividades em janeiro de 2019 e hoje hoje virou uma referência sócio-educacional/ambiental”, conta o administrador do parque, Márcio Koiti Takiguchi.

Concebido para ser um presente da comunidade japonesa à sociedade brasileira, o objetivo do parque é mostrar que é possível ser social e ambientalmente responsável, através de iniciativas educacionais, levando ao público informações relevantes e mostrando a importância da conservação da flora e fauna.

Aberto de segunda a sexta – sábados e domingos é fechado para manutenção – o parque já recebeu, desde a sua inauguração, mais de 15 mil pessoas – levando em conta o período da pandemia, que ficou fechado dois anos.

Localizado no coração da Mata Atlântica, Parque Ecológico Imigrantes foi pensado na questão da acessibilidade

Atrativos – Como um de seus principais atrativos, o parque proporciona aos visitantes o convívio com a natureza, a observação da fauna e da flora e a melhor compreensão dos ecossistemas da Mata Atlântica. Entre atrativos, o PEI oferece uma trilha sensorial, que possibilita uma experiência sensorial da floresta ao visitante. Com um pouco de paciência, é possível observar um casal de antas, macacos bugios, tartarugas, borboletas e até bicho-preguiça, além de várias espécies de aves.

Parcerias – Apesar de ser muito procurado por famílias em busca de um contato mais próximo com a natureza, Nishio explica que o parque não foi concebido com a ideia de ser um parque público. Pelo menos não no conceito tradicional. “Ele foi concebido com o intuito de servir de laboratório para estudo e pesquisa da fauna e da flora. Nesse sentido já temos uma parceria com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) – Campus de Diadema”, completa Márcio, lembrando que recentemente também foi assinado um Termo de Cooperação Técnica com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente da Prefeitura de São Bernardo do Campo com o propósito de trocar experiencias e também permitir que o órgão possa sugerir melhorias e conservações.

Sobre a parceria com a Unifesp, Márcio conta que, “o lado positivo” para a instituição é a localização do parque. “Antes, para realizar as aulas práticas, em campo, os alunos tinham que se deslocar cerca de 150 ou 200 quilômetros, que é onde se encontram os parques que teriam condições de atender os propósitos da instituição. Hoje o parque está a aproximadamente 15 km da Unifesp, ou seja, em termos de custeio para a própria universidade ajuda muito, além de facilitar muito. Você faz uma coleta deste material e em meia hora você está no laboratório da Universidade”, explica Márcio, acrescentando que “também estamos fazendo um trabalho em parceria com a Unifesp para identificar e catalogar espécies tanto da flora quanto da fauna.

Acessibilidade – “Quando a gente finalizar esse inventário, o objetivo é poder identificar quais são as espécies da fauna e da flora que estão em extinção justamente para multiplicar essas espécies de forma que você possa ter aí um crédito de carbono”, diz Márcio, afirmando que o parque foi criado pensando na questão da acessibilidade.

“Disponibilizamos de recursos que permitem que hoje as pessoas com baixa mobilidade possam caminhar hoje sobre a passarela que está na copa das árvores. O parque é dotado de rampas de acesso, plataformas, elevador vertical para cadeirantes e pessoas com baixa mobilidade, e um fenicular (bondinho), que percorre 110 metros e chega a uma altura de 40 metros”, conta Márcio, lembrando que a manutenção hoje é feita por uma equipe própria formada por sete funcionários – todos moradores das comunidades do entorno.

Ampliação – Segundo Nishio, o parque ainda não está pronto. “Conseguimos aprovar um projeto no Pronac (Programa Nacional de Apoio e Incentivo à Cultura), no valor de R$ 9 milhões, que prevê a construção de novos ambientes no Parque Ecológico Imigrantes, como um anfiteatro para receber eventos e exposições, além de um laboratório para subsidiar pesquisas técnicas e científicas sobre a fauna e a flora da Mata Atlântica.

Com a utilização dos incentivos fiscais originados na Lei 8.313/91, de apoio e incentivo à cultura, as empresas podem colaborar com patrocínio através de renúncia fiscal, sem onerar o caixa, e obter grande retorno institucional de imagem e de usufruto do espaço.

Segundo Márcio, o mais difícil foi provar que a Mata Atlântica é, na verdade um patrimônio natural e que esse patrimônio natural nada mais é que um museu a céu aberto”, diz Márcio, afirmando que outro projeto em andamento é o Pró-Mel. Trata-se de uma parceria entre a Fundação Kunito Miyasaka, Unifesp e o Rotary Club de São Bernardo do Campo.

Fundação Kunito Miyasaka também apóia eventos esportivos

Meliponicultora – A primeira turma do Curso Básico de Iniciação à Meliponicultura sob orientação das docentes da Unifesp teve início em abril do ano passado. A ideia é permitir que a comunidade do entorno entenda que é possível obter uma renda produzindo alguma atividade sem destruir a natureza. “Tem um lado técnico-científico que é a preservação das espécies de abelhas nativas sem ferrão, daí o termo meliponicultura”, explica Márcio, acrescentando que outro objetivo é mostrar para a população em geral que, “sem abelhas não ocorre a polinização, e sem polinização logo não terá mais o produto”.

“Ou seja, a ideia é mostrar a importância da preservação do meio ambiente e que você pode conviver muito bem com ele”, diz Márcio, afirmando que projeto embrionário nasceu com 20 pessoas e para 2024 a proposta é ampliar para 200, constituindo um núcleo de 100 participantes no litoral sul e outro núcleo com mais 100 participantes na região do ABC.

“Terminado esse ciclo, a intenção é que a gente consiga multiplicar isso de 200 para 400 pessoas até o projeto se torne algo permanente”, destaca Márcio, para quem o Parque Ecológico Imigrantes é um legado para as próximas gerações.

(Aldo Shiguti)

FUNDAÇÃO KUNITO MIYASAKA

Presidente: Roberto Yoshihiro Nishio

Vice-Presidente: Osamu Matsuo

Superintendente Geral: Ykuo Tamaru

CONSELHO DIRETOR

Presidente: Teodoro Tutomu Sato

Vice-Presidente: Hélio Oda

Vice-Presidente: Elio Sigueo Yamamoto

Membro Efetivo: Atshushi Miyake

CONSELHO CURADOR

Presidente: Keizo Uehara

Vice-Presidente: Tsuyoshi Kuramochi

Membros Efetivos: Augusto Shitiro Tatibana, Elena Kiyomi Kanegae e Ricardo Luis Nishimura

Membros Suplentes: Clineu Yoshiharu Ida e Tosio Umeda

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