Haicai Brasileiro – Temas de setembro
O Jornal Nippon Já publica aqui os haicais enviados pelos leitores. Haicai é um tipo de poema que se originou no Japão. Seu maior expoente é Matsuo Bashô (1644-1694). O haicai caracteriza-se por descrever, de forma breve e objetiva, aspectos da natureza (inclusive a humana) ligados à passagem das estações. Hoje, no mundo inteiro, pessoas de todas as idades e formações escrevem haicais em suas línguas, atestando a universalidade dessa forma de expressão.
A seleção é feita pelos haicaístas Edson Iura e Francisco Handa.
Escreva até três haicais de cada tema sugerido (o tema deverá constar do haicai), identificando-os com seu nome (mesmo quando preferir usar pseudônimo), endereço e RG. Cada pessoa pode participar com apenas uma identidade.
Os trabalhos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail ashiguti@uol.com.br, com o assunto: “Haicai Brasileiro”.
TEMAS DE SETEMBRO
Ipê – Filhote de gato – Queimada
miados por perto
em disputa pelas tetas
filhotes de gato
Carlos Viegas
Brasília, DF
Discussão cessa –
Casal avista ao longe
Corredor de ipê rosa
Clara Sznifer
Santos, SP
Filhote de gato
à porta, de olhos fechados.
Quentura do sol.
Cyro Mascarenhas
Brasília, DF
mais um passageiro
na volta do shopping –
Filhote de gato
Daniel Morine
Santos, SP
todo encolhidinho
dois olhinhos assustados
filhote de gato
Débora Novaes de Castro
São Paulo, SP
Ipê amarelo
lá no quintal da vovó…
Lembrança que fica.
Didi Tristão
São Paulo, SP
Ipê na calçada –
Sobre o tapete de flores
repousa um gari
Fernando Mandioca
Uíge, Angola
De longe a queimada
deixa seu rastro no céu –
Cinzento horizonte
George Goldberg
Londres, Inglaterra
Se espreguiça todo
e ronrona baixo –
Filhote de gato.
Jaíra Presa
Santos, SP
Como flocos de neve
voam folhas de ipê branco
Harmonia no ar
Jonas Reis
Vitória, ES
Estrada rural –
Na sucessão de ipês
cores se alternam
Marina Rehfeld
Belo Horizonte, MG
Fumega distante
restos da última árvore
em meio à queimada.
Matusalém Dias de Moura
Iúna, ES
Queimada na serra –
As mãos trêmulas da idosa
em sinal da cruz
Mônica Monnerat
Santos, SP
Duas bolas brancas
Cambalhotam no tapete –
Filhotes de gato
Nilza Genovês
Santos, SP
No lote baldio,
Cinco filhotes de gato,
Em cruel descarte.
Reneu Berni
Goiânia, GO
queimada à vista –
a fumaça espalhada
junta-se às nuvens
Rose Mendes
Ilhabela, SP
Na casa herdada
o jardim se ilumina –
Ipê-amarelo
Taís Curi
Santos, SP
Vagam pela rua
em busca de quem os queira
filhotes de gato.
Zekan Fernandes
São Paulo, SP
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Temas de outubro (postar até 10 de setembro)
Sabiá – Folhas novas – Catavento
Temas de novembro (postar até 10 de outubro)
Semente – Araponga – Finados
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A Construção da Linguagem (8)
Por Francisco Handa
Quando o haicai se popularizou nos anos 80, através de livros traduzidos lançados na época, procurava-se pela definição: o haicai é retrato. É o retrato do momento, da maneira como o fotógrafo deslocou o seu instrumento de trabalho. Portanto, o haicai consistia numa imagem. Isso pode ser verdade, com viés reducionista. A composição do haicai não é apenas fotografia, pois outros órgãos dos sentidos acabam trabalhando. Mas considerando-se a imagem no haicai, esta remete a coisas ausentes, que o haicaísta apenas sugere. Este é um trabalho árduo, o de fazer com que a imagem mostre coisas – ou indique – o que na própria imagem não aparece de maneira evidente.
Muitas vezes, somente a imagem pode ser apreciada como sendo a de um momento, com a sua beleza, caso de uma fotografia. Mas estou falando de outra forma de trabalhar a imagem. Nesse caso, a imagem pode ser a trivial, presente em vários momentos de nossa vida, que ao ser usada na composição do haicai, deixa a pergunta: tão próxima… tão distante… Esta é a estética sofisticada e oculta.