Para delegada Raquel, ‘população quer polícia na rua, crimes investigados e a certeza do castigo’

“O governador Tarcísio de Freitas cumprirá suas obrigações”

Única mulher no grupo técnico ‘Segurança Pública e Administração Penitenciária’ e também entre os três nikkeis presentes na lista de 105 nomes que compõem a equipe de transição do governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a delegada Raquel Kobashi Gallinati disse ao jornal Nippon Já que a segurança pública será um dos principais desafios na nova gestão. “A população quer polícia na rua, crimes investigados e a certeza do castigo. Eu, como integrante da equipe de transição, como delegada de polícia, como deputada suplente e, principalmente, como cidadã, quero ter segurança, assim como todos os paulistas querem”, explicou a delegada, afirmando que “há a necessidade de um choque de gestão e de coragem, sobretudo para enfrentar a problemática da segurança pública”.

Prestes a passar o bastão para sua sucessora, a delegada Jacqueline Valadares – sua atual vice – no comando do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) – onde esteve à frente por dois mandatos, Raquel disse que ficou “muito feliz, lisonjeada e honrada” em compor a equipe de transição. “Vendo que o critério foi técnico, a gente percebe a seriedade e competência do governador Tarcísio, que é o governador que eu fiz campanha, que eu aposto e que com certeza será o melhor governador que São Paulo já teve”, destaca a policial, que em sua primeira disputa eleitoral obteve 52.932 votos como candidata a deputada estadual, ficando como segundo suplente do PL.

Transparência – Com uma atuação marcante no combate ao crime, a delegada conta que seu objetivo é “apostar na transparência e compartilhar com o novo governo todas as necessidades da Polícia Civil e a atual realidade da estrutura da instituição, incluindo a ausência de condições para um trabalho mais eficaz”.

“Quando a gente exige que o governo dê estrutura, valorize e dê condições de trabalho para o policial, essa pauta não é corporativista. Umbilicalmente, ela não é concêntrica, é uma pauta que converge e que atinge diretamente aquele destinatário final que é a população. Quando nós queremos e exigimos trabalhar de acordo com a nossa potencialidade – e isso não nos é permitido –, automaticamente a população fica completamente desprotegida e abandonada à mercê da criminalidade”, diz Raquel, que iniciou sua carreira como delegada em 2012 e, apesar do pouco tempo, foi eleita quatro vezes seguida uma das Melhores Delegadas de Polícia do Brasil, de acordo com o Censo 2022.

Credibilidade – Segundo ela, o próximo governador deve, primeiro, resgatar a credibilidade da população em suas instituições de Estado. Para Raquel, o PSDB – partido que governou o Estado de São Paulo nos últimos 30 anos – “abandonou a população e, na mesma simetria, deixou com que a população desacreditasse no governo”.

Camuflados – “O governador Tarcísio de Freitas foi eleito, principalmente, pela sua competência, capacidade técnica, seriedade e ética, especialmente em suas falas no combate ao crime e na desarticulação das organizações criminosas”, explica, acrescentando que, “quando a gente fala em crimes no aspecto individual ou crimes de varejo, nada adianta combatermos esses crimes que são alardeados como índices se não conseguirmos combater de forma macro as organizações criminosas que ali sim, a gente conseguiria sufocar todos os vermes que são os criminosos de forma macro e ampla”.

“O que a gente percebe é que foram décadas de desvio, manobras e até mesmo malabarismos para que não fosse encarada de frente a desarticulação de uma das maiores organizações criminosas que a gente já escutou e que ultrapassou fronteiras estaduais e internacionais e que é um produto da inércia e da frouxidão no combate ao crime aqui dos governos anteriores no Estado de São Paulo”, afirma Raquel, destacando que, como presidente do Sindpesp procurou atuar para expor os problemas da categoria, “que muitas vezes ficavam camuflados”. Problemas, conta, desde a falta de estrutura na contratação de policiais até a falta de uma estrutura real para se combater o crime passando pela falta de tecnologia e até mesmo pela falta de valorização dos policiais.

Mazelas – Raquel explica que o Sindicato “sempre expôs as mazelas não com intuito de denúncias vazias, mas com o intuito de que haja realmente uma estruturação e se colocando à disposição dos governos para que a melhor polícia pudesse ser explorada no seu máximo”.

“O que a gente percebe é que a polícia judiciária foi relegada a quinto plano, deixando assim a impunidade reinando. Os nossos relatórios e as nossas falas não são baseados em doutrinas ou papéis, são relatórios empíricos, isto é, nós fomos até o foco do problema, conversamos com colegas que vivenciam o problema, com a população que não tem o serviço público adequado, conversamos e analisamos dados de índices de criminalidade, dados de aumento da violência urbana, algo que não precisávamos nem ter medidores de índices porque é visível”, diz, acrescentando que “os relatórios, muitas vezes, foram colocados e relegados como inexistentes”.

Contribuição – “Tivemos que processar o governo simplesmente para que cumprissem com suas obrigações. Uma série de situações que a gente percebe a real incompetência dos governos anteriores”, conta Raquel, explicando que espera contribuir na transição de forma técnica para uma “nova polícia”.  “Uma polícia moderna, uma polícia que priorize a sua atividade-fim. A atividade fim da polícia judiciária é uma atividade investigativa, uma polícia que valorize seus policiais e que esteja com o governo do seu lado e não desconfiando dessa polícia como ideologias de esquerda que colocam automaticamente o policial como devedor”.

Déficit – Segundo ela, no mês passado, o déficit de policiais civis no Estado de São Paulo, que já era alto, registrou um novo recorde. De acordo com o Diário Oficial, são mais de 16 mil vagas que precisariam ser preenchidas. “Quando a gente fala de um polícia deficitária, quando a gente fala de uma polícia que as viaturas estão completamente velhas, dando defeitos e com armamentos obsoletos, falta de tecnologia e de coletes balísticos, nós não estamos falando da complexidade nem do aparato completo necessário básico para o trabalho policial. E aí se inventa colocar uma câmera no peito do policial no caso do policial militar”, diz a delegada, explicando que, pessoalmente, não é contra o uso de câmeras nos uniformes dos policiais militares “desde que a gente tenha um cenário com toda estrutura adequada para esse policial”. “Então, que coloque câmera até na orelha. Mas a gente não está falando desse cenário. A gente está falando de um cenário em que o policial não tem viatura, não tem munição, não tem treinamento, não tem salário e de um cenário em que o policial paga do seu próprio bolso para treinar, o policial compra as suas munições, o policial compra o seu uniforme, o policial compra a sua arma. Ou seja, uma inversão completa de valores. Uma situação caótica em que o Estado não está do lado da polícia”, diz a delegada, que acredita plenamente que o próximo governador cumprirá suas obrigações e que espera estar ao seu lado para reverter esse cenário.

(Aldo Shiguti)

 

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