Prêmio Bunkyo de Literatura presta homenagem a Yoji Fujyama

 Acontece neste sábado, 11, no Salão Nobre do Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, no bairro da Liberdade em São Paulo, a cerimônia de outorga do Prêmio Bunkyo de Literatura 2023, que este ano completa a sua 53ª edição, desde a sua criação sob o nome de Nikkei Bungeisho.

Este ano, uma das novidades será o Prêmio Especial outorgado ao Sr. Yoji Fujyama, falecido em 16 de julho deste ano, e o lançamento de seu livro: “Poesia Completa” (Telucazu Edições), com apoio do Bunkyo.

Poesia Completa traz ao público os pioneiros poemas de Yoji Fujyama, reunindo seus três livros de poesia, que estavam fora de catálogo: Nítida Paisagem (1955), A Manhã e seus Deuses (1958) e Outras Manhãs e seus Deuses (2015). Também inclui trabalhos que saíram apenas em jornais e até material inédito.

Segundo o editor da Telucazu Edições, André Kondo, a ideia da publicação surgiu quando a Comissão de Atividades Literárias do Bunkyo – Seção em Língua Portuguesa, decidiu conferir o Prêmio Especial ao Sr. Yoji Fujyama: “Foi assim que ouvi de nosso presidente, Francisco Handa, o nome de Fujyama pela primeira vez. Foi com tanto entusiasmo que Handa-san me falou sobre a poesia de Fujyama e de sua importância para a nossa literatura, que me senti envergonhado por não conhecer o seu trabalho, fato que busquei remediar buscando suas obras. Assim, fui arrebatado e quis que mais pessoas pudessem conhecer a sua poesia. Quando a filha Ely me contou que o próprio Fujyama autorizou a publicação de sua ‘Poesia Completa’, senti o orgulho de um editor que descobre um grande talento literário, mesmo que essa ideia seja absurda, porque esse talento já havia sido descoberto há décadas por nomes como Sérgio Milliet, Valdemar Cavalcanti e Celso de Alencar, que menciona até admiradores da grandeza de Raduan Nassar.”

 

Homenagem – Francisco Handa escreveu na apresentação: “Tomei conhecimento de Yoji Fujyama no curso de poesia ministrado por Fernando Paixão, na Casa Mário de Andrade, em São Paulo, em fins da década de 80. Comentou na ocasião que Fujyama era o poeta que respeitava, que devíamos conhecer. Meu interesse em sua obra despertou-me enorme entusiasmo, sendo ele também descendente de japoneses. Não se via muito descendentes que compusessem poesia. Neste ano, que resolvemos homenagear Yoji Fujyama com o “Prêmio Especial”, no segundo semestre de 2023, soubemos de seu falecimento. Não consideramos esta homenagem como póstuma, pois ele tomou conhecimento antes deste acontecimento.”

Já Jiro Takahashi, sobrinho do poeta e um dos maiores editores do Brasil, relatou: “No longo período em que trabalhei na Ática e, depois, quando fiz a loucura de abrir a Estação Liberdade, saía com o Yoji, muitas vezes na companhia de autores ou jornalistas, pelos bares da Liberdade. Ele próprio não era muito falante, mas era muito bom para fazer os outros conversarem muito. Ninguém queria ir embora. Naturalmente, livros e autores eram os assuntos. A minha convivência com ele me legou grandes amigos que se tornaram meus também. Entre eles, Wladyr Nader, grande jornalista, Celso de Alencar, grande poeta, Massao Ohno, o artista do livro, Samir Meserani, pioneiro em estudos e práticas de Criatividade, Anderson Fernandes Dias, grande editor e proprietário da Ática. Com Yoji e nossos amigos pude frequentar a faculdade da vida.”

 

Para a eternidade– Ely Fujyama virá especialmente da Bahia para representar o pai e participar do lançamento. No posfácio, ela escreveu: “Não tinha noção da grandiosidade de sua obra, da importância de ter sido o primeiro descendente de japoneses a publicar um livro de poesia em português. Acredito que se fosse por gosto e se as circunstâncias permitissem, ele teria sido poeta o tempo todo. Quando surgiu a oportunidade de reunir seus escritos no livro ‘Poesia Completa’, senti que seria uma forma maravilhosa de eternizar a obra do meu pai, uma merecida homenagem. Ele já estava bastante idoso e debilitado quando aprovou a publicação, mas acredito que ficou feliz. Esperava que estivesse vivo para presenciar esse momento. Porém, acredito que tudo acontece por um motivo e na hora que deve acontecer. E era para ser assim.”

 

Poemas de Y. Fujyama:

 

 

O HOMEM E O CHÃO

(outro fragmento)

 

 

Laborei com amor e paciência

o gume desta foice.   E também e ainda

com mais amor o trigo que intumesce.

Rápido e seco o golpe.   Que não fira

os mais belos sonhos da madureza.

Pronto a ceder, o vento em seu ventre

loiro, é antes carícia que vago lamento.

……………………………………………………..

O ar da manhã agora saboreia

o duplo amor: ereto, tomba o feixe

frágil e aquela mão, a mesma de sempre,

colhe-o como o lençol acolhe o feto.

 

 

POEMA

“… de repente uma menina

De vermelho surgiu no vale correndo, correndo”

VINÍCIUS DE MOARES

 

 

Há um clima de espera

em cada folha

pendendo verde

como se fora

na memória.

 

Uma paz, não de descanso

nem de após-posse

cintila aguda

como o silêncio

bebendo a fonte.

 

Em tudo ainda persiste

a suave esperança

de uma súbita aparição:

uma menina de vermelho

entre relvas brincando…

 

 

Serviço:

Lançamento de “Poesia Completa”, de Y. Fujyama

Editora: Telucazu Edições, 248 páginas

Data: 11/11/2023 – 14h30

Local: Salão Nobre do Bunkyo / Rua São Joaquim, 381, 2º andar – Liberdade – SP

(próximo estação do Metrô São Joaquim) – Entrada Franca

Mais informações: www.telucazu.com

Na ocasião será outorgado o Prêmio Bunkyo de Literatura 2023 e haverá o Painel sobre Kenzaburo Oe. Também será lançado a obra “Mistério: Contos Selecionados do VI Concurso Bunkyo de Contos” (Bunkyo/Selo Editorial).

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