Cerimônia premia vencedores do 5º Concurso de Monografias
Mauricio Falchetti, de Londrina (PR), com “Cambiantes e permanentes – Uma perspectiva da criação de estereótipos”, foi o grande vencedor do 5º Concurso de Monografias – Prêmio “Jurista Kiyoshi Harada”, cujo intuito é despertar o interesse dos jovens nikkeis para desenvolver as atividades na área da cultura em geral, e especificamente na área da cultura japonesa. Este ano participaram 17 monografistas com 18 trabalhos que versaram sobre o tema: “Reflexões sobre os estereótipos relacionados aos imigrantes japoneses e seus descendentes”.
Promovido pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Bunkyo; Associação Brasileira de Ex-Bolsistas do Gaimusho Kenshusei e JCI Brasil-Japão; o concurso premiou ainda a segunda colocada, Fernanda Balzacchi de Moura Morais, que desenvolveu o tema: “Minoria positiva ou negativa? Estereótipos relacionados à decasséguis no Japão e nikkeis no Brasil” e Paula Sayuri, na terceira colocação, com “’Ô japonês!’: Os efeitos dos estereótipos acerca de japoneses e nipo-descendentes no Brasil – uma defesa pela mudança de foco”.
Realizado no último dia 23, no salão nobre do Bunkyo, a cerimônia contou com a presença do presidente da Comissão Organizadora, jurista Kiyoshi Harada; do presidente da Comissão de Jurados, ministro Massami Uyeda; do coordenador Rodolfo Wada; da cônsul adjunto do Consulado Geral do Japão em São Paulo, Chiho Komuro; do vereador Aurélio Nomura e do presidente da Fundação Kunito Miyasaka, Roberto Yoshihiro Nishio.
Foram entregues também medalhas aos participantes presentes: Maria Julia Fujiwara Tobase, Renato Takashi Igarashi e Tamilyn Tiemi Nassuda Ishida. Já os três primeiros colocados receberam, além de troféus, premiação em dinheiro. Gustavo Ruchaud representou a segunda colocada, Fernanda de Moura Morais. Paula Sayuri, que reside no Japão, não pôde participar.
Trajetória exitosa – No anúncio dos vencedores, Massami Uyeda destacou o trabalho dos membros da Comissão Organizadora – composta pelo professor Sedi Hirano, Roberto Nishio (Fundação Kunito Miyasaka), Jorge Yamashita (presidente do Conselho Deliberativo do Bunkyo); Patrícia Murakami (advogada), Célia Oi (jornalista) e Alexandre Kawase (vencedor do 2º Concurso).
“Ao proclamar os vencedores, nós temos que dizer que este concurso atinge a quinta edição e continua com a trajetória exitosa em incentivar a difusão do pensamento da comunidade nikkei brasileira sobre temas que interessam para a preservação do legado social, histórico e cultural dos imigrantes japoneses que aportaram no Brasil desde 1908 e sua irradiação para os descendentes, contribuindo para a consolidação da cultura brasileira”, disse Massami, revelando que, “se a mim fosse dada a oportunidade de escrever, não escreveria também como as teses que foram apresentadas”.
Segundo ele, os três vencedores pontuaram entre todos os jurados. “Esse é um fato interessante. Todas as 18 monografias apresentadas trouxeram importantes reflexões e preciosos ensaios sobre o tema de inegável complexidade. A comissão julgadora, em sua reunião de escolha dos vencedores, após considerações e debates, em escrutínio concorrido, proclamou o resultado, não sem antes registrar a alta qualidade da produção apresentada pelos participantes”, explicou Massami.
Para ele, o Concurso de Monografias consiste em uma “relevante e importante contribuição para a consolidação da cultura brasileira”. “Cultura brasileira constituída por um mosaico de cores, gêneros e tradições, porque o nosso país, com a graça de Deus, é uma amálgama de toda a humanidade. Tanto é que se diz que o Brasil é o coração do mundo. E as sucessivas edições deste concurso tão poderoso, tão edificante, idealizado pelo jurista Kiyoshi Harada tem demonstrado essa faceta da grande riqueza cultural da nossa população”, destacou Massami Uyeda.
Diversidade – Chiho Komuro expressou sua admiração pelo jurista Kiyoshi Harada e sua esposa, a também advogada Felicia Harada e todos os colaboradores pela realização deste 5º Concurso de Monografia sobre a Cultura Japonesa. E parabenizou os membros da Comissão de Jurados – “pelo incansável trabalho para examinar os brilhantes trabalhos dos participantes deste concurso” e que “devem ter passado momentos de admiração, descobertas e inspiração” durante a leitura das teses.
“Soube que participaram deste concurso pesquisadores nikkeis de diferentes áreas com múltiplas perspectivas sobre a temática proposta, o que enriqueceu a coletânea de monografias com suas valiosas contribuições sobre a realidade multifacetada da realidade brasileira”, disse a cônsul, acrescentando que “a participação expressiva de pesquisadores nikkeis demonstra a riqueza e potencial da nação multicultural brasileira quando refletimos sobre a importância da coexistência e o respeito à diversidades no século 21”.
O vereador Aurélio Nomura destacou os temas apresentados pelo Concurso, “que busca justamente instigar assuntos relevantes, sempre com o intuito de despertar o interesse dos jovens nikkeis e não nikkeis para o desenvolvimento de atividades culturais, especificamente aquelas voltadas para a manutenção e divulgação da cultura japonesa e que elas se perpetuem por várias gerações”.
Estereótipos positivos – “Nos dias de hoje, em função da complexa integração dos nikkeis na sociedade brasileira e seu verdadeiro espírito de brasilidade, restam poucos ou quase nenhum estereótipo sobre os japoneses e seus descendentes, muito diferente dos anos 1970, quando os nikkeis ainda lutavam por um lugar na escala social do nosso país. Era comum a referência, principalmente, sobre a origem caipira, de que todos falavam errado, trocando o ‘r’ pelo ‘l’, e que os talentos nikkeis eram apenas para ciências exatas”, observou o parlamentar, lembrando que “pouco a pouco, esses esterótipos foram sendo vencidos pelas seguidas gerações e seus descendentes, que passaram a se destacar em todas as áreas, na engenharia, na medicina, no direito, na sociologia, leis, literatura e tantas outras atividades”.
Segundo Nomura, hoje em dia “podemos dizer que carregamos estereótipos positivos”. “Ainda somos vistos como trabalhadores honestos, inteligentes, confiáveis e educados. São conceitos extremamente favoráveis, mas que por outro lado, carrega ainda um contraponto, ou seja, caso o nikkei não se encaixe em todos esses estereótipos, ele pode ser visto como um outro estereótipo, de que você nem parece japonês, atribuindo uma possível falha à sua individualidade”, explicou Nomura.
Mudanças – Por fim, o idealizador, Kiyoshi Harada, afirmou que se sente “plenamente gratificado pela organização do concurso, que teve início há cinco anos com poucos candidatos e poucos trabalhos”. “A partir do último concurso do ano passado, tivemos a interiorização dos candidatos, pegamos o pessoal do interior do Estado, inclusive participantes de outros estados da federação brasileira e nesta quinta edição, tivemos 51 inscritos, inclusive candidatos do Japão”, disse ele, que reforçou a dificuldade dos jurados em escolher os três primeiros vencedores.
“Pela pequena diferença de pontos entre eles, se vê o elevado nível de trabalho dos nossos monografistas, que ano a ano vai crescendo”, destacou Harada, que também sugeriu uma mudança no formato da cerimônia de premiação.
Pela dificuldade de alguns candidatos participarem presencialmente, ele propôs uma “volta ao formato da época da pandemia”, quando a premiação foi realizada virtualmente”. Segundo o jurista, “exigir a presença física de pessoas que moram no interior, inclusive uma que mora no Japão, é bastante complicado”.
Por fim, agradeceu, “de coração aqueles que fizeram o esforço para vir até aqui, prestigiar o nosso evento”. E deixou claro que “não é exatamente a quantidade de público que enaltece o evento, mas a qualidade das pessoas que aqui compareceram e, principalmente, a amizade que nos liga com esse pessoal presente”.
Homem das cavernas – Ao Nippon Já, o vencedor, Maurício Falchetti contou que foi incentivado por sua professora de japonês na Escola Modelo, em Londrina. Ele destacou a dificuldade em desenvolver o tema, “ainda mais por não ser descendente de japoneses”. “Foi uma ótima oportunidade de tentar ver como é o mundo dos nikkeis e tentar ver como o preconceito é resultado não só de uma cultura como de um todo porque, no final das contas, a gente pertence a mesma espécie”.
Para ele, “parece que foi ontem que a gente estava catando frutinha e de repente levou uma cambalhota”. “Hoje estamos todos no tráfego andando dentro de um carro apertado. Tentei dar uma olhada o que aconteceu neste meio tempo, sob a perspectiva de que somos todos da mesma espécie e o que muda é apenas o fato de termos culturas diferentes. Ou seja, o preconceito está antes da história. Foi a partir daí que tentei desenvolver meu tema”, explicou Maurício.
(Aldo Shiguti)