Ciclista japonês pedala cerca de 45 mil quilômetros e conhece mais de 20 países

Hiro Tsuda acampado na Bolívia “O mundo é incrível”

Yukihiro Tsuda, o Hiro – como costuma se apresentar por onde passa – deixou o Japão em 2014 para fazer o que mais gosta: viajar. Desde então, ele percorreu cerca de 45 mil quilômetros e conheceu mais de 20 países. Detalhe: em cima de uma bicicleta. Em média, ele pedala cerca de 100 km por dia. Seu “recorde” pessoal é de 195 km em único dia. Na bagagem, umas poucas peças de roupas, capa de chuva, uma barraca, um fogão pequeno, um saco de dormir e ferramentas, além de outros acessórios como mapa e celular.

O motivo que o fez deixar sua família, na província de Fukuoka – localizada na costa norte de Kyushu, no Japão – e partir sem destino por aí é simples: “Sempre gostei de viajar”, diz ele, que entrou em território brasileiro há cerca de um mês e meio, em Foz do Iguaçu.

Antes desta sua experiência, conta que em 2008 se aventurou como mochileiro durante dez meses por países asiáticos como Tailândia, Índia e Nepal. Depois, trabalhou como vendedor de máquinas industriais em uma empresa na capital japonesa para ajuntar dinheiro suficiente para custear sua viagem.

Sua primeira parada foi a Austrália. Permaneceu dois anos no continente-ilha, onde trabalhou em diversas atividades. Ficou ainda um ano na Nova Zelândia e em 2017 foi para a fria Alasca, até passar pela América Latina e vir parar na América do Sul, onde passou pela Argentina, Bolívia, Equador, Uruguai e Paraguai.

Perigo – No Uruguai e na Argentina, quando manifestava seu desejo de visitar o Brasil, ouvia conselhos para tomar cuidado, “pois trata-se de uma país muito perigoso”.

Se em suas andanças nunca sofreu nenhum tipo de violência, assalto ou coisa parecida, Hiro sentiu na pele – ou melhor, na bicicleta – um outro tipo de violência. E esta, talvez, bem perigosa: andar pelas rodovias brasileiras.

Tanto, que seus dois únicos acidentes envolvendo carros e a sua bike – da marca Panasonic – desde que partiu do Japão, foram no Brasil: o primeiro, em Curitiba, no Paraná, e o segundo vindo de Registro, no Vale do Ribeira, para a capital paulista, onde está desde o último dia 16. Por conta deste último acidente, teve que pegar a bicicleta do proprietário da casa onde estava hospedado temporariamente, no bairro de Pinheiros, zona Oeste de São Paulo.

Ciclista costuma pedalar em média 100 quilômetros por dia

Hospedagem – Aliás, Hiro conta que, para hospedagem nas cidades que visita, tem feito uso de dois aplicativos: o Couchsurfing, plataforma onde pessoas abrem suas casas para hospedar viajantes sem receber nada em troca, e o Warmshowers, rede mundial gratuita de troca de hospitalidade para cicloviajantes. “Gasto com estadia em hotéis, mesmo, foram, raríssimos”, explica Hiro, que fala fluentemente inglês e espanhol, que aprendeu durante sua viagem.

Quando não encontra hospedagem através das plataformas, Hiro costuma acampar. Geralmente próximo a postos policiais ou próximo à corporação de bombeiros, como pretendia fazer em Registro, não fosse a providencial intervenção do presidente da Associação Cultural Nipo-Brasileira de Registro, Irineu Makoto Kawajiri, que o hospedou em sua casa por cinco dias. A solidariedade, aliás, é uma constante em seu caminho, por onde faz muitos amigos.

 

Três Copas – Aos 33 anos e com curso na área de assistência social, Hiro acompanhou três Copas do Mundo fora do Japão. A de 2014, no Brasil, estava na Austrália; em 2018, na Rússia, viu o Japão ser eliminado nas oitavas-de-final pela Bélgica quando estava em Cuba e, apesar de admitir que não é fanático por futebol, sofreu em 2022 com a eliminação do Japão já no Brasil, onde acompanhou o melhor desempenho dos samurais azuis em Copas.

 

Pandemia – Quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou estado de pandemia em relação à Covid-19, em março de 2020, Hiro estava em Salta, na Argentina, onde ficou em isolamento até setembro de 2021. Sobre a doença, ele conta que “acha” que deve ter pego no início deste ano. “Cheguei a sentir alguns sintomas, mas não procurei saber se era, realmente”, explica ele, acrescentando que tomou três doses da vacina.

Agora, Hiro quer estender seu visto – que vence em janeiro de 2023 – para ver se consegue ficar no país até o Carnaval. Antes de retornar para o Japão para matar a saudade da família, quer aproveitar a sua estadia no país para conhecer ainda o Rio de Janeiro, Manaus e Salvador.

(Aldo Shiguti)

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