Comunidade terá oito representantes nikkeis eleitos no Brasil, sendo três na Câmara e cinco em Assembleias
Representatividade baixa. É assim que pode ser definida a eleição do último domingo (02) para a comunidade nipo-brasileira. No total, mais de 123 milhões de brasileiros foram às urnas para a escolha de deputado estadual e federal, governador, senador e presidente, sendo eleitos para as Assembleias, Câmara e Senado nada menos do que 1599 parlamentares. Desse universo, apenas oito são nikkeis.
No levantamento realizado pela reportagem do Nippon Já, conquistaram uma cadeira para a próxima legislatura os deputados federais Kim Kataguiri (SP), Luiz Nishimori (PR) e Pedro Aihara (MG) e os estaduais Roberto Hashioka (MS), Elika Takimoto (RJ), Marcio Nakashima (SP), Felipe Franco (SP) e Lu Ogawa (PA).
Trata-se de um resultado negativo para a comunidade nikkei – que sempre teve representantes que atendiam as demandas e auxiliavam entidades e associações. Se levar em consideração o número de descendentes de japoneses no País, cerca de 1,2 milhão, a representatividade é pífia.
São Paulo manteve as duas cadeiras ocupadas por políticos nikkeis na Assembleia. Concorrendo à reeleição, Márcio Nakashima (PDT) conseguiu angariar votos suficientes para ser reeleito, saindo de 38 mil votos para 85 mil neste ano, um crescimento expressivo. Quem também teve uma votação significativa foi Felipe Franco, que leva o sobrenome Murakami no registro. Saiu de 18 mil votos da última eleição (2020, quando ficou na suplência da vereança) para estrondosos 90 mil, com sua bandeira voltada ao esporte e uma presença digital marcante (são mais de 4 milhões de seguidores em seu perfil do Instagram). Assim como para a Câmara, com Kim Kataguiri também tendo uma votação satisfatória para um segundo mandato – mesmo obtendo menos votos do que em sua primeira eleição (de 465 mil para 295 mil em 2022).
Estado com o segundo maior número de nipo-brasileiros, Paraná também segue o exemplo dos paulistas com uma baixa representatividade nikkei. Deputado federal por três mandatos, Luiz Nishimori segue firme para mais uma legislatura e consolida-se como a (única) “voz da comunidade” mais ativa. Já na Assembleia paranaense, nenhum descendente conseguiu se eleger.
Nomes tradicionais da velha política nikkei que não se elegeram nas urnas precisam se adaptar ao novo perfil de eleitorado. Ou, usando o termo da moda, “se reinventarem”. O ultrapassado bordão difundido há 20 ou 30 anos, denominado “4S” (suor, sola de sapato, santinho e saliva), por si só não sustenta mais uma campanha eleitoral minimamente competitiva. É necessário mirar em propostas concretas e objetivas, escolher um lado em um panorama tão polarizado como tem sido visto desde as últimas eleições, bem como ser mais direto com o eleitorado, este já cansado de “políticos em cima do muro”.
Algumas campanhas vitoriosas exemplificam a nova forma de lidar com potenciais eleitores. Kataguiri lançou mão de peças publicitárias bastante focadas em seu nicho (jovens, antenados com tecnologia e recém-despertos para questões políticas), além de continuar com seu discurso forte e combativo contra o PT e, também, contra o presidente Jair Bolsonaro. Teve um bom engajamento digital e chegou com tranquilidade aos votos necessários, mesmo tendo perdido mais de 160 mil votos em relação ao pleito de 2018. “É uma grande responsabilidade, um grande fardo, mas busco honrar cada um dos votos. Não há o que se comemorar, porque, independentemente do que aconteça, nosso país não vai viver uma situação fácil”, lembrou ele em vídeo já no fim da apuração, referindo-se ao segundo turno presidencial.
Candidata pelo Rio de Janeiro, a professora de Física, mestre em História, doutora em Filosofia e escritora Elika Takimoto fez uma campanha feroz no digital – sendo definida até pelo próprio partido (PT) como “trincheira de resistência progressista”. A nikkei seguiu firme durante a campanha e obteve um resultado bastante positivo, com 95.263 votos. Em mensagens nas redes sociais, ela agradeceu “a todas as pessoas que ajudaram a colocar uma professora na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Fizemos história. Sou a deputada estadual eleita com mais votos na história do partido”, destacou a mais nova parlamentar, feliz com os resultados do pleito.
Em terras mineiras, a solidariedade e resiliência do bombeiro Pedro Aihara conquistaram o eleitorado. Seu rosto ficou nacionalmente conhecido em 2019, após uma barragem em Brumadinho romper e deixar um rastro de 270 mortos. Desde as primeiras horas após o incidente Uihara foi um dos líderes nas buscas por vítimas e, em diversas ocasiões, o porta-voz das equipes de resgate. Com a exposição e propostas voltadas à Segurança Pública e Educação, o nikkei precisou deixar o Corpo de Bombeiros e se dedicar a uma campanha impulsionada pela exposição na mídia à época do incidente.
“Agora é trabalho duro pra poder continuar digno da confiança (dos eleitores). Que o amor sempre prevaleça e que o trabalho coletivo sempre construa coisas maravilhosas”, escreveu nas redes sociais em tom emocionado ao ser eleito deputado federal com pouco mais de 84 mil votos.
(Rodrigo Meikaru)
Candidatas nikkeis ‘arregaçam as mangas’ e mostram força na eleição
As candidatas nikkeis deste ano mostraram o protagonismo feminino na eleição, pelo menos na comunidade. No Rio de Janeiro, Elika Takimoto obteve uma expressiva votação e foi a deputada estadual eleita com mais votos da história do partido (PT) no estado. Seu nome foi um dos assuntos mais comentados no dia 03 de outubro, após o fim da apuração.
Em São Paulo, a força feminina das descendentes também deu o que falar. Para a Câmara, a deputada nikkei mais votada foi a médica Nise Yamaguchi, que ganhou notoriedade após defender o uso de tratamento precoce contra a Covid-19. Aliada do presidente Jair Bolsonaro, Nise foi alvo de críticas e longos questionamentos na CPI da Pandemia, instaurada pelo Senado em 2021. Na campanha eleitoral, amealhou apoios e teve grande aderência no Twitter, mas não conseguiu conquistar a desejada vaga como deputada federal.
Na campanha estadual paulista, duas novidades mostraram que “vieram para ficar” mesmo não obtendo as cadeiras: a delegada Raquel Kobashi Gallinati, com propostas focadas em segurança pública, foi a candidata nikkei mais bem votada. Logo atrás, a vereadora campineira Mariana Conti Takahashi – eleita em 2020 como a mais votada em Campinas – conquistou muitos votos com bandeiras em prol dos direitos humanos, das mulheres e dos trabalhadores.
Além delas, destaque ainda para a primeira candidata a vice-governadora nikkei da história, Carol Tosaka, em Pernambuco; bem como Maisa Uemura, que saiu como segunda suplente na chapa liderada por Luiz Henrique Mandetta, em corrida ao Senado pelo Mato Grosso do Sul.
(R.M)
VOTAÇÃO DOS CANDIDATOS NIKKEIS – DEPUTADO ESTADUAL – SP
Felipe Murakami Franco – União – 90.440 (ELEITO)
Marcio Nakashima – PDT – 85.195 votos (ELEITO)
Samurai Caçador – 56.630 votos
George Hato – MDB – 55.353 votos
Delegada Raquel – PL – 52.932 votos
Mariana Conti – Psol – 43.988 votos
Regis Yasumura – PL – 39.168 votos
Edgard Sasaki – PSDB – 27.677 votos
Coronel Américo – PL – 24.549 votos
Jandyra Uehara – PT – 18.754 votos
Jamil Ono – Solidariedade – 16.981 votos
Cláudio Teresaka – Republicanos – 12.744 votos
Coronel Motooka – Republicanos – 10.147 votos
Pedro Kawai – PSDB – 8.622 votos
Laura Kamia – PSD – 5.507 votos
Dra Ligia Funaki – PMB – 5.288 votos
Pedro Mori – PSB – 4.202 votos
Katiá Mituo Takahashi – PP – 3.880 votos
Adriana Okabe – Podemos – 3.698 votos
Luis Tegami – PSB – 3.255 votos
Yudi Watanabe – União – 3.066 votos
John Kage – PSC – 1.748 votos
Misª Irmã Anita – PL – 1.448 votos
Deoclécio Placco – Patriota – 870 votos
Dani Akamine – MDB – 866 votos
Priscila Ieiri – Novo – 823 votos
Profº Lucas – Pstu – 730 votos
Debora Meiko – Solidariedade – 613 votos
Helena Suzuki – Agir – 421 votos
Profª Edilza – PSDB – 398 votos
Alessandra Abe – PMB – 229 votos
Maria Alice Taniguchi – PTB – 224 votos
Marcelo Kawatoko – PSB – 186 votos
Paulo Ifuku – Agir – 172 votos
VOTAÇÃO DOS CANDIDATOS NIKKEIS – DEPUTADO FEDERAL – SP
Kim Kataguiri – União – 295.460 votos (ELEITO)
Walter Ihoshi – PSD – 55.027 votos
Nise Yamaguchi – Pros – 36.690 votos
Taka Yamauchi – MDB – 34.163 votos
Keiko Ota – MDB – 16.126 votos
Helio Nishimoto – MDB – 13.415 votos
Dr Ricardo Yoshio – Solidariedade – 12.804 votos
Dr Ricardo – PSD – 12. 645 votos
Fabio Sato – MDB – 10.894 votos
Coronel Nishikawa –PL – 8.166 votos
Dr Marcelo Morikochi – PP – 5.734 votos
Dr Douglas Koga – Novo – 5.124 votos
Dr Kuramoto – PSDB – 3.634 votos
Ten.Paulo Kobaiashi – PTB – 3.393 votos
Dr Tioki Ogusuka – Patriotas – 3.105 votos
Silvia Nagata – Podemos – 1.590 votos
Dr Minoru – Republicanos – 1.086 votos
Dra Carol Takayama – PP – 1.085 votos
Koyu Iha – Patriotas – 822 votos
Felipe Takashi – MDB – 703 votos
Mori Yamashita – PP – 619 votos
Juliano Kochi – Agir – 552 votos
Renato Koga – PRTB – 539 votos
Norma Otani – Avante – 403 votos
Talma Nonaka – PSD – 288 votos
Naomi Yamaguchi – Pros – 279 votos
Lisia Sakai – PCO – 203 votos
Wilson Keiti Japa – PRTB – 203 votos
Eliza Muratori – PRTB – 131 votos
Martha Ishida – Pros – 52 votos
*Fonte: TSE