Japão é mercado fértil para empresas brasileiras em áreas de inovação e saúde

 

Brasil e Japão sempre foram grandes parceiros de negócios. Na área de cooperação tecnológica, o Programa de Desenvolvimento do Cerrado (Prodecer) transformou as fronteiras agrícolas do país nos anos 70 e na última década os brasileiros passaram a conviver com o padrão japonês da TV digital. No caminho contrário, as ações são mais tímidas, mas não menos importantes, especialmente quando as pautas são minérios de ferro e carnes de aves. Mas desde 2016, o governo japonês, por meio da JETRO, organização de fomento de comércio exterior, tem buscado atrair empresas com o “Invest Japan”, programa que identifica, atrai e apoia investidores estrangeiros para promover e expandir seus negócios naquele país.

Por meio do Invest Japan, a JETRO oferece serviços de informações de mercado, incentivos, ambientes regulatórios e sobre abertura de empresa. Há ainda a possibilidade de contar com uma consultoria com especialistas, além de oferecer escritório temporário que pode ser utilizado gratuitamente pelas empresas interessadas em se estabelecer no Japão. Algumas companhias brasileiras, com apoio do escritório da JETRO em São Paulo, já têm vislumbrado projetos naquele país, especialmente nas áreas de inovação e saúde.

Resultados médicos mais rápidos e seguros – Roberto Figueroa, CIO do Portal Telemedicina, uma empresa B2B e B2B2C que oferece uma solução completa e inovadora capaz de conectar médicos com pacientes através da teleconsulta, além dos melhores especialistas do país com clínicas e hospitais, laudando exames à distância em poucos minutos e por um valor acessível a partir da integração de equipamentos por meio de multiprotocolos de comunicação e IoT (Internet das Coisas), diz que o Japão é um mercado a ser desbravado pelas oportunidades que oferece. “Mesmo em um país pequeno se comparado ao Brasil, sentimos a necessidade de conectar médicos e profissionais da saúde com as pessoas de forma mais rápida e prática. Às vezes, para muitos deles, é preciso viajar 80 km a 100 km para fazer um exame ou passar por uma consulta”, explica.

Os exames feitos retornam para as clínicas e hospitais em um sistema online. O algoritmo baseado em inteligência artificial criado pelo Portal Telemedicina, diz Figueroa, faz uma varredura nos exames para buscar patologias. A ferramenta alerta os médicos para qualquer indício de alterações. Assim, com a solução, é possível determinar uma pontuação de risco e reorganizar a fila dos médicos. “A consultoria da JETRO é de grande valia, pois abre portas e acelera o nosso processo de entrada no país. Queremos primeiro fomentar parceiros, estabelecer uma carta de intenção e entrarmos de maneira mais profunda a partir do segundo semestre de 2023”, explica.

Além disso, diz Figueroa, há outros dois bons motivos para apostar no Japão. O primeiro é que o país mantém fortes laços de negócios e uma grande história social a partir de seus grupos migratórios. E segundo é que os japoneses privilegiam muito a saúde e o bem-estar, além das altas taxas de envelhecimento da população. “Ou seja, a demanda por saúde é tremenda e cada vez mais as empresas buscam soluções fora do Japão. E queremos firmar nossos projetos de cooperação, seja com universidades, hospitais ou empresas”, argumenta o CIO do Portal. A empresa já atua nos Estados Unidos desde 2020 e no ano passado passou a pivotar os seus primeiros trabalhos na França.

Trabalhar na recuperação dos pacientes – Outra startup brasileira da área de healtech que integra o Invest Japan é a Vivax, empresa que tem o propósito de criar soluções high tech que ajudem na reabilitação de pacientes com disfunções neurológicas e ortopédicas. A companhia, no Invest Japan desde 2019, desenvolve, por exemplo, o ARM, um robô desenvolvido a partir de estudos e tratamentos de reabilitação na área da fisioterapia e representa uma alternativa mais eficiente para pacientes que, após um AVC, perderam totalmente ou parcialmente os movimentos e a função neurológica dos membros superiores.

Antônio Makiyama, CEO da Vivax, diz que só no Japão 350 mil pessoas sofrem AVC anualmente. E seu equipamento pode acelerar a recuperação ortopédica em pelo menos quatro vezes, funcionando como uma alternativa às terapias tradicionais fazendo com que elas se exercitem ao jogar games. “Ao jogar o paciente recebe assistência motora para realizar os movimentos funcionais em um espaço tridimensional, com conteúdos que simulam atividades cotidianas”, diz o executivo.

De acordo com Makiyama, os movimentos são prescritos por terapeutas e o ambiente lúdico motiva os pacientes e a automação dos exercícios do robô multiplica por dez o número de movimentos comparada à terapia convencional, diminuindo o tempo de tratamento. O robô gera gráficos de performance personalizados com parâmetros de força, trajetória e velocidade. A Vivax também desenvolveu o ART, uma alternativa para terapia, ou reabilitação motora e neurológica, de pacientes utilizando jogos de realidade aumentada. “Com as nossas soluções adicionamos valor à terapia, monitoramos a qualidade do tratamento e reduzimos as filas de pacientes”, esclarece.

Apoio para dar protagonismo ao Brasil – A JETRO com o Invest Japan tem o importante apoio da Embaixada do Brasil em Tóquio para disseminar o conhecimento das soluções brasileiras junto às empresas e universidades japonesas. Em especial para os brasileiros, a missão é também apresentar o potencial do mercado nipônico, já que Estados Unidos e Europa costumam atrair muito mais a atenção por conta, especialmente, das diferenças de costumes e da língua com o Oriente.

A boa notícia é que o governo japonês quer fomentar o investimento estrangeiro nessa área de healtech, assim como nas de energia, mobilidade e sustentabilidade. Um envelhecimento rápido da população, o aumento de doenças do estilo de vida e problemas de saúde mental são alguns dos obstáculos para incentivar a longevidade da população local.

Soluções como a análise e utilização de dados de cuidados de saúde, gestão e serviços relacionados com registos de saúde pessoal, como os defendidos pelo Portal Telemedicina e Vivax, devem ajudar o Japão a enfrentar os desafios sociais e também contribuir para crescimento do mercado interno. “O Japão é um país inovador e oferece um ambiente de negócios com muitas oportunidades e qualidade de vida sem paralelos no mundo. As empresas brasileiras, por sua vez, têm ótimas soluções, que cabem bem com as necessidades dos japoneses”, diz Hiroshi Hara, presidente da JETRO São Paulo.

 

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