Cotada para ser vice de Ricardo Nunes em SP, delegada Raquel fala sobre suas raízes e segurança pública

Filha de pai italiano e mãe descendente de japoneses, Raquel Kobashi Gallinati conta que tem orgulho de suas raízes – Divulgação

As eleições municipais só acontecem em outubro, mas nos bastidores a movimentação política envolvendo partidos políticos já é bastante intensa. Depois do deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) anunciar sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo, na semana passada foi a vez do nome da delegada Raquel Kobashi Gallinati ganhar força entre as lideranças do PL como vice de Ricardo Nunes, atual prefeito de São Paulo e que busca sua reeleição. Ao Nippon Já, a delegada disse que ficou honrada e que está à disposição do partido “no que for útil e necessário”. Na avaliação dos dirigentes do PL, a delegada seria uma “resposta perfeita” para a candidatura de Marta Suplicy como vice de Guilherme Boulos: é mulher, tem um perfil de direita e tem pautas em defesa da mulher e segurança pública.

Apesar de honrada, ela lembra que seu nome “foi apenas mencionado” e que a decisão final cabe aos dirigentes da sigla. A policial assegurou, no entanto, que seus propósitos continuam os mesmos, ou seja, “lutar por uma sociedade mais segura, por segurança pública de qualidade para a população, na formulação de políticas públicas adequadas, sérias, na defesa dos vulneráveis – no contexto de mulheres e vítimas quando vítimas de violência –, e sempre resgatando e preservando as minhas origens tradicionais, que é a origem de um povo que eu também tenho muita honra de pertencer, que é minha origem japonesa”.

Delegada Raquel esteve presente na cerimônia de abertura da Mostra Japão em Jaguariúna

Raízes japonesas – A declaração foi feita ao jornal Nippon Já no último dia 20, durante sua participação em dois importantes eventos da comunidade nipo-brasileira realizadas no Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – no bairro da Liberdade, em São Paulo: a Cerimônia de Celebração de Ano Novo – realizada em conjunto pelas cinco principais entidades nikkeis (Bunkyo, Enkyo, Kenren, Aliança Cultural Brasil-Japão e Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil) – e na Primeira Cerimônia de Chá (Hatsudate) do Centro de Chado Urasenke do Brasil, que abriu a programação da “Artes de Ano Novo no Japão”.

Filha de pai italiano, Odyllo (já falecido), e mãe japonesa, dona Júlia Takako Kobashi Gallinati, Raquel lembra que seus avós maternos, Tamae Nishimura e Takashi Kobashi, desembarcaram no Brasil nas primeiras levas de geração de imigrantes. “Minha avó, que viveu até os 104 anos, frequentava aulas de ikebana e até os seis anos de idade, minha mãe e meus tios só falavam em nihongo (japonês)”, conta Raquel, explicando que ela mesma costuma participar das tradicionais gincanas poliesportivas (undokais) na Associação Japonesa de Santos, no litoral paulista, e até hoje pratica artes marciais. A mãe, aliás, permanece em Santos até hoje, onde tem uma floricultura.

Existe muita ideologia, muito achismo quando o assunto é segurança pública, diz Raquel

Referência – “Acho extremamente importante que o Bunkyo mantenha o ritual tradicional de Ano Novo, porque a gente sabe muito bem o quão as nossas origens resgatam e cultuam os antepassados, principalmente para a gente poder ter todos esses valores éticos e morais cultuados pelos nossos ancestrais. E aí a gente percebe que o Bunkyo desempenha um papel essencial não só no resgate da cultura, mas também na preservação de forma permanente desta cultura e das nossas raízes e valores”, destaca Raquel, que nasceu em Niterói (RJ) e é casada com o também policial Marcel Lombardi.

Segundo ela, “isso faz com que a comunidade japonesa seja uma referência mundial quando imigrantes japoneses saem de seu país de origem e conseguem reconstruir, dentro da comunidade local – no caso a brasileira –, e serem respeitados em relação a isso, justamente pela preservação dos valores tradicionais de seu povo e cultura”.

Adepol – Atual dirigente da Associação de Delegados de Polícia do Brasil (Adepol Brasil), Raquel Gallinati foi a única mulher presente no grupo técnico “Segurança Pública e Administração Penitenciária” na equipe de transição do governador paulista Tarcísio de Freitas. “O governador escolheu dez pessoas para integrar sua equipe de transição e entre esses dez nomes eu fui a única mulher”. conta Raquel, que também foi a primeira mulher a presidir, por duas gestões consecutivas, o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.

Eleita pela quinta vez como uma das melhores delegadas de polícia do pais – de acordo com o Portal Nacional dos Delegados & Revista da Defesa Social – na categoria Gestão, Raquel Gallinati tem posições firmes quando o assunto é segurança pública. “O meu propósito é não só o fortalecimento da segurança pública, mas também mostrar que algumas ideologias tendem a permear a discussão segurança pública”.

 Vulnerabilidade social – “No Brasil, acredita-se que, quando um criminoso pratica um crime e ele tem a resposta da punição, essa punição de um criminoso tende a se inverter e falar que é uma violação dos direitos humanos, algo que é completamente equivocado, porque a partir do momento que a gente está num país em que leis são asseguradas de forma ampla para aqueles que rompem justamente a lei, praticam crimes, subjugam pessoas de forma violenta e cruel, a população que cumpre seus direitos, cumpre seus deveres, está desprotegida”, diz, afirmando que “no Brasil existe muito mais proteção legal para a bandidagem”.

Sistema desequilibrado – Para Raquel, trata-se de um sistema “completamente desequilibrado e esquizofrênico. “O que mata a população não é a atuação da polícia na neutralização daquele criminoso que tende a atacar a polícia e o Estado, de tal forma que o policial não pode ter outra resposta se não o neutralizar. Aqui a tendência é falar que a letalidade é alta por parte da polícia, que a polícia mata pretos e pobres. Isso é completamente equivocado. Porque o que mata pretos e pobres e vulnerabilidade social aqui no nosso país é a ausência de estrutura de direitos sociais no que tange a educação, a saúde, o acesso a saneamento básico, o acesso ao lazer, o acesso a dignidade e à qualidade de vida, ou seja, o respeito à dignidade da pessoa humana”, diz Raquel, afirmando que “a gente percebe que as falas são propositadamente permeando narrativas para que a gente tire o foco do que realmente mata, ou seja, a vulnerabilidade social, que é o péssimo ou o não investimento adequado do dinheiro público no que a gente realmente precisa”.

Segundo a delegada, é necessário estruturar “de forma muito sólida o pilar dos direitos sociais e segurança pública, os direitos sociais, saúde, educação, para que a gente possa ter um Estado democrático que dê qualidade de vida para a população”. “E aí a gente vê falando que o país é um país violento, que a polícia é uma polícia violenta”.

Para Raquel, a violência “pode ser negativa ou positiva”. “A violência positiva é quando ela é utilizada para neutralizar uma violência odiosa, cruel e covarde, que subjuga todo um povo, toda uma população e quem é legitimado. Nota-se que existe muita ideologia, muito achismo quando o assunto é segurança pública. A pauta deveria ser isenta de paixões ideológicas e com objetivo único, que é ampliar e dar estrutura eficaz para que a gente esteja num país de qualidade”, diz Raquel, que em 2022, em sua primeira eleição para uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo obteve 52.932 votos, resultado que lhe garantiu a segunda suplência do PL-SP.

A delegada Raquel Kobashi Gallinati com a cônsul Chiho Komuro, Tadayoshi Hanada, Cecília, cônsul Daisuke Hattori e Roberto Nishio em evento no Bunkyo

Combustível – “Foi algo surpreendente. Sabia que seria muito difícil por isso busquei fazer com que minhas pautas tivessem sintonia e identificação com aquelas pessoas que acreditavam que eu estava ali disposta a representar as pautas da bandeira de uma segurança pública fortalecida, da defesa das mulheres e crianças e dos mais vulneráveis e no resgate das tradições milenares da nossa cultura. Nesse sentido fiquei muito feliz com todo o apoio que recebi da comunidade japonesa, em especial dos kaikans e das lideranças, que abriram suas portas e me deram oportunidade e espaço para que pudesse, pelo menos expor as minhas ideias. Felizmente as respostas foram positivas e isso só me dá mais combustível para que eu continue nessa jornada, por mais árdua que seja. Afinal, o que vale é atingir os nossos objetivos, objetivos que visam o bem comum e o bem da sociedade, propósitos que os japoneses também tanto prezam e por isso é um país de primeiro mundo”, concluiu Raquel.

(Aldo Shiguti)

 

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