Haicai Brasileiro – Temas de Junho
O Jornal Nippon Já publica aqui os haicais enviados pelos leitores. Haicai é um tipo de poema que se originou no Japão. Seu maior expoente é Matsuo Bashô (1644-1694). O haicai caracteriza-se por descrever, de forma breve e objetiva, aspectos da natureza (inclusive a humana) ligados à passagem das estações. Hoje, no mundo inteiro, pessoas de todas as idades e formações escrevem haicais em suas línguas, atestando a universalidade dessa forma de expressão.
A seleção é feita pelos haicaístas Edson Iura e Francisco Handa.
Escreva até três haicais de cada tema sugerido (o tema deverá constar do haicai), identificando-os com seu nome (mesmo quando preferir usar pseudônimo), endereço e RG. Cada pessoa pode participar com apenas uma identidade.
Os trabalhos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail ashiguti@uol.com.br, com o assunto: “Haicai Brasileiro”.
TEMAS DE JUNHO
Lua de Inverno – Folha Seca – Dia dos Namorados
Por todo o quintal
um leito de folhas secas –
ventinho da tarde.
Benedita Azevedo
Magé, RJ
sopra forte o vento
revoam as folhas secas
por toda a trilha
Carlos Viegas
Brasília, DF
Lá tão distante…
Pequena lua de inverno
no céu da cidade.
Cristiane Cardoso
São Paulo, SP
Dia dos Namorados –
a vendedora de joias
não usa aliança
Daniel Morine
Santos, SP
Vendedor de flores
na entrada do restaurante –
Dia dos Namorados.
Fabiana Lessa
Nova Iguaçu, RJ
Dia dos Namorados –
O jovem casal à mesa
come no mesmo prato
Fernando Mandioca
Uíge, Angola
Entre as folhas secas
par de chinelos surrados –
Entrada do templo
George Goldberg
Londres, Inglaterra
A lua de inverno
clareia atroz solidão
Quarto de hotel
Jonas Reis
Vitória, ES
ah, as folhas secas!
memorizo seus ruídos
ao passar por elas
José Marins
Curitiba, PR
Bem devagarinho
surgindo com tênue luz –
A lua de inverno.
Mario Isao Otsuka
São Paulo, SP
A jovem observa
linda lua de inverno –
Que tal um poema…
Marli Tristão
São Paulo, SP
No alto do edifício
quase sem brilho esta noite
A lua de inverno.
Matusalém Dias de Moura
Iúna, ES
Mesmo pequenina,
paira no céu desta noite –
A lua de inverno…
Mônica Monnerat
Santos, SP
Morador de rua
busca latinhas no lixo –
Ah… lua de inverno
Regina Alonso
Santos, SP
Olha o idoso,
As folhas secas caídas,
Com certa tristeza.
Reneu Berni
Goiânia, GO
sem dinheiro
apenas um desenho rindo
dia dos namorados
Román Villarreal Macías
Cidade do México, México
Dia dos Namorados –
Nos olhos o mesmo brilho
do primeiro encontro
Taís Curi
Santos, SP
A trilha sem fim –
O estalo da caminhada
sobre as folhas secas.
Zekan Fernandes
São Paulo, SP
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Temas de julho (postar até 10 de junho)
Garoa – Árvore sem folhas – Vinho Quente
Temas de agosto (postar até 10 de julho)
Vento Frio – Rosa de Inverno – Tricô
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A Construção da Linguagem (5)
(Por Francisco Handa)
Quando falo de linguagem não se trata apenas das palavras, mas como elas são usadas na transmissão de uma mensagem. O treino do haicaísta é justamente em criar linguagens possíveis, no mundo real e fenomênico. Compor um haicai usando apenas os mecanismos da mente, como numa poesia romântica, em que a idealização tem importância, não se aplica no caso proposto. O haicai não é uma idealização. Ao invés, a experiência com as palavras deve estar de acordo com a experiência com o mundo devidamente vivido. Este fator pode diferenciar o haicai de outras formas de literatura. Quando se compõe um suposto haicai, isento desta experiência, totalmente de imaginação, corre-se o risco de tornar-se uma banalidade. Muitos iniciantes, utilizam-se deste recurso sem grande sucesso.
O haicai não é um retrato fiel da realidade, mas uma invenção sobre o real. É uma ficção. Ainda como ficção, não pode se distanciar da realidade. Nesse caso, podemos usar as nossas sensações imediatas nas composições, sem uma deturpação incômoda da mente em criar algo diferente.