69º Tooro Nagashi de Registro supera desafios e celebra presença de público

Myoho Ishimoto, da Nichirenshu, durante cerimônia de purificação do Rio Ribeira de Iguape

 

Os dias que antecederam a realização do 69º Tooro Nagashi de Registro foram de preocupação por conta das chuvas que fizeram o nível do rio Ribeira de Iguape subir acima da média. Os organizadores começaram a monitorar a situação do rio uma semana antes do evento com informações diárias enviadas pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). A preocupação era necessária. Afinal, a segurança do público vem sempre em primeiro lugar. “Pelas informações que recebemos, podíamos realizar o Tooro Nagashi com toda segurança, por isso em momento algum paramos a montagem”, explicou o coordenador, Dilson Tsunoda.

E, ao final do 69º Tooro Nagashi, realizado nos dias 01 e 02 de novembro pela Associação Cultural Nipo-Brasileira de Registro (Bunkyo), o balanço não poderia ser mais positivo. “Este ano, a presença de público foi maior que em 2022, quando o país enfrentou uma série de problemas com as manifestações dos caminhoneiros”, lembra Dilson, acrescentando que um termômetro para avaliar o sucesso do Tooro Nagashi deste ano foi a ocupação da rede hoteleira da cidade, que atingiu sua capacidade máxima nos dias do evento.

Celebração Inter-Religiosa é um dos pontos altos do evento

 

Comércio – “Foi bom não só para os hotéis como também para o comércio em geral, postos de gasolina e restaurantes”, afirma Dilson, que, apesar de não ter uma estatística oficial, calcula que este ano cerca de 20 mil pessoas prestigiaram a festa, cujo objetivo é homenagear as almas dos antepassados.

“Na quinta-feira, 2, principal dia do Tooro Nagashi, chegamos a ficar assustados com a quantidade de gente. Tanto na soltura dos tooros quanto na Praça Beira Rio, que concentrou a programação artística e a praça de alimentação”.

 

Nakatsugawa – Pioneiro no país, o Tooro Nagashi teve como destaque a presença de uma Comitiva de Nakatsugawa, cidade-irmã de Registro, liderada pelo presidente do Convênio Nakatsugawa-Registro, Jun Sugimoto. Formada por 13 pessoas, entre eles o presidente da Câmara Municipal de Nakatsugawa, Kohei Yoshimura, a delegação japonesa participou, na sexta-feira (3), de uma solenidade em comemoração ao 43º aniversário do convênio, 110 anos da colonização japonesa em Registro e dos 115 anos da imigração japonesa no Brasil (leia às págs 4 e 5).

Cerimônias – Como acontece todos os anos, o Tooro Nagashi de Registro tem como ponto alto uma celebração budista da linhagem Nichirenshu com a monja Myoho Ishimoto, viúva do sacerdote Emei Ishimoto, um dos pioneiros da tradição no Vale do Ribeira. De uns tempos para cá, a cerimônia passou a contar com adeptos de outras religiões, tornando-se uma celebração ecumênica. Este ano participaram representantes da Igreja Episcopal, da Seicho-no-Ie da e da Risho Kossei kai do Brasil.

Um momento marcante foi quando o filho do casal Emei e Miyoho, Ishimoto, se emocionou ao falar do pai, que faleceu em 1984, com apenas 57 aos de idade. “Muita saudade”, disse ele, que não conteve as lágrimas. E foi aplaudido.

 

Abertura – Tão logo terminou a cerimônia religiosa, uma multidão acompanhou a soltura dos barquinhos – este ano foram cerca de 2 mil – enquanto as autoridades se dirigiam ao palco montado na Praça Beira Rio, local da cerimônia de abertura.

Estiveram presentes o prefeito de Registro, Nilton Hirota – (acompanhado da primeira-dama, Eliane Yamamaru);  o presidente do Bunkyo de Registro, Irineu Makoto Kawajiri; o cônsul Yoshiyuki Nakatani, do Departamento de Segurança do Consulado Geral do Japão em São Paulo; o representante chefe do Escritório da Jica (Japan International Cooperation Agency) Brasil, Masayuki Eguchi; o presidente da Uces (União Cultural e Esportiva Sudoeste), Silvio Furukawa; o presidente da Fenivar (Federação das Entidades Nikkeis do Vale do Ribeira), Toraju Endo; Celina Linhares, assessora especial do secretário de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, Roberto de Lucena; a gerente do Sesc Registro, Débora Texeira, e Dilson Tsunoda, coordenador do 69º Tooro Nagashi e representante do Conseg de Registro, além do diretor de Esportes do Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), Roberto Tanaka (representando o presidente da entidade, Renato Ishikawa), além de vereadores e secretários municipais, colaboradores e patrocinadores.

 

Online – Em seu discurso, o presidente do Bunkyo de Registro lembrou que este ano o evento estava comemorando “várias datas significativas” e que para 2024 a ideia é realizar uma festa especial para celebrar os 70 anos da festa. Lembrou que este ano o Tooro Nagashi aconteceu de forma híbrida – foi transmitido ao vivo pelo cantor Joe Hirata – para que mais pessoas pudessem acompanhar.

“Apesar de não entender o idioma”, a assessora do secretário de Turismo do Estado de São Paulo, Celina Linhares destacou a beleza da celebração religiosa e o “lado espiritual” que a fez sentir paz e tranquilidade. “É uma festa linda”, resumiu.

Silvio Furukawa explicou que a Uces congrega 24 associações do Vale do Ribeira e tem no Bunkyo de Registro “uma das filiadas mais atuantes”.

Roberto Tanaka frisou a demonstração de “união e confraternização do culto religioso, que aglutinou vários segmentos”.

Futuro – Masayuki Eguchi, por sua vez, disse que desde a década de 1960, a Agência de Migração do Japão – uma das organizações que deram origem à Jica – vem apoiando os imigrantes e seus descendentes. “Nos dias de hoje, a Jica desenvolve suas atividades de cooperação estando bem próxima da comunidade nipo-brasileira, com foco na formação de recursos humanos”, lembrou.

Ao Nippon Já, Eguchi disse que, depois de uma interrupção de dois anos por conta da pandemia, a Jica retomou este ano o programa de envio de voluntários. O Bunkyo de Registro conta com dois voluntários enviados pela agência – na área de culinária e de turismo.

Para o representante chefe da Jica, além de transmitir a gratidão a seus antepassados, o Tooro Nagashi “é uma oportunidade de mostrar aos pioneiros o forte sentimento de Registro de seguir crescendo em direção ao futuro”. “A Jica deseja acompanhar esta caminhada, apoiando o futuro da comunidade nikkei de Registro”, concluiu.

Já o cônsul Nakatani destacou que os imigrantes japoneses e seus descendentes que viveram na região do Vale do Ribeira “fizeram de Registro o lar de uma comunidade nikkei vibrante e atuante”. “Pioneiros que, com esperança e trabalho, superaram os grandes desafios que se apresentaram em seus caminhos, conquistando o respeito e a confiança da sociedade brasileira – alicerçando o forte laço de amizade existente hoje entre o Japão e o Brasil”, disse Nakatani.

Superação – Finalizando a série de discursos, o prefeito Nilton Hirota lembrou que o Tooro Nagashi deste ano superou as adversidades da chuva e também das enchentes. Segundo ele, a cerimônia, “fundamentalmente tem o intuito de agradecer os nossos antepassados por tudo que eles fizeram, por todo o legado que nos deixaram, para podermos estar aqui neste momento também”.

Primeiro prefeito descendentes de japoneses eleito em Registro, Nilton Hirota disse ao Nippon Já que, por conta da pandemia não conseguiu ainda visitar a cidade de Nakatsugawa como era previsto pelo convênio”, mas que em 2024 pretende conhecer a cidade-irmã de Registro.

Jya Odori – Este ano, a exemplo do ano passado, o Tooro Nagashi contou com a parceria do Sesc Registro, que elaborou uma programação especial, com a exibição do o documentário “Bem-vindos de novo”; vivência e demonstração de kendô; vídeo mapping na fachada do KKKK e o espetáculo Dança do Dragão de Nagasaki, com o Grupo Nagasaki Jya Odori, de São Paulo, além de oficinas culturais e o show Sons Nikkei.

Outras duas apresentações inéditas foram o Show da Imigração e a apresentação do Grupo Todos Nós. A programação também contou com apresentação de taiko, danças e uma praça de alimentação.

(Aldo Shiguti)

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