Em Londrina, Bunkyo Rural promove compartilhamento de informações e experiências

Membros do Bunkyo Rural com representantes de associações de Londrina e palestrantes

 

Londrina, localizada no norte do Paraná e distante cerca de 530 quilômetros de São Paulo, foi a cidade escolhida para abrigar o 15º Bunkyo Rural – a primeira edição presencial fora do Estado de São Paulo. Região que tem na agricultura uma de suas principais atividades econômicas e é famosa por realizar a Expo Londrina, considerado o maior e principal evento do agronegócio do país – a edição deste ano registrou mais de 560 mil visitantes no Parque Ney Braga. Não à toa, o palco do Bunkyo Rural foi o Pavilhão Horácio Sabino Coimbra, no mesmo Parque Ney Braga.

Com o tema “Agricultura Antenada com o Futuro”, o evento, realizado no dia 12 de novembro, contou com a presença do presidente da Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná, Eduardo Suzuki; da presidente da Acel (Associação Cultural e Esportiva de Londrina), Luzia Yamashita; do vice-prefeito de Assaí, Cairo Koguishi; e do vice-presidente do Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Roberto Nishio, além do coordenador George Hiraiwa e do presidente e vice da Comissão Bunkyo Rural/Prêmio Kiyoshi Yamamoto, respectivamente, Nelson Kamitsuji e Celso Mizumoto, entre outros.

Anfitrião, Eduardo Suzuki destacou a importância do Bunkyo Rural, braço agrícola do Bunkyo, enquanto o presidente da Comissão do Bunkyo Rural, Nelson Kamitsuji, o Bunkyo Rural parte da premissa que todos os cidadãos, seja como produtor, seja como consumidor, participam das ações ligadas à agricultura. “Nossa ideia é valorizar quem ficou no campo e para os que estão no meio urbano, saber a importância da produção. Então, nós fazemos essas atividades para valorizar o agricultor e mostrar a importância para o pessoal urbano de quem produz”, disse Kamitsuji, lembrando que “quase todos os nikkeis aqui no Brasil tem origem rural”.

E deixou uma reflexão inspirada em uma postagem de um aluno da Universidade de Havard –por coincidência, neto do ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues. “No primeiro dia de aula ele lançou um desafio aos alunos indagando qual foi a maior invenção da humanidade. Apareceram várias respostas como a roda, a energia elétrica, a energia atômica, a Internet… Enfim, muitas invenções. Até que certa altura o professor disse não ser nada daquilo e que a maior invenção da humanidade foi a agricultura, razão da nossa permanência até hoje”.

Pesquisadora da Embrapa Soja, Francismar falou sobre ‘Biotecnologia e Genômica’

 

Jica – Transmitido pelo Bunkyo Digital para todo o território nacional, o 15º Bunkyo Rural teve como destaque a parceria da Jica (Japan International Cooperation Agency) com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

“Não tenho dúvidas que em breve a Jica poderá ser protagonista de novo [na agricultura brasileira], mas desta vez com viés trazendo novidades, tecnologias e inovação. Falando de um modo simples, vocês nos ensinaram a produzir, então, ajuda a gente a processar e a ter produtos mais inteligentes”, disse o ex-secretário estadual da Agricultura e Abastecimento do Paraná e coordenador da 15ª edição do Bunkyo Rural, George Hiraiwa, explicando a importância da Agência de Cooperação Internacional do Japão para o desenvolvimento da agricultura brasileira.

Diretor de inovação da Sociedade Rural do Paraná (SRP), coordenador da Agro Valley e vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil Japão do Paraná (CCIBJPR), além de Head de Relações Institucionais da Cocriagro – o primeiro hub de inovação de Londrina – Hiraiwa lembra que, que de 2010 a 2015, a Jica investiu cerca de US$ 4 milhões na Embrapa Soja, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária localizada em Londrina (PR), para a implementação do projeto de cooperação técnico-científico para desenvolver variedades de soja tolerantes à seca.

O grupo do Bunkyo Rural na Embrapa de Londrina

 

Prodecer – A atuação da agência governamental do Japão esteve presente também na palestra do representante sênior da Jica Brasil, Issei Aoki. Um dos quatro convidados da 15ª edição do Bunkyo Rural, Aoki falou sobre o tema “A visão de futuro para atuação no agronegócio”. Entre outras questões, ele lembrou o apoio ao Prodecer (Programa de Cooperação Nipo – Brasileiro para o Desenvolvimento dos Cerrados), e destacou a implementação do Projeto Colaborativo da Agricultura de Precisão e Digital para o Fortalecimento do Ecossistema de Inovação e Sustentabilidade do Agro Brasileiro, programado para ter seu início em 2023.

Futuro – Para George Hiraiwa, mais que o histórico de cooperação – que muitos já conhecem – , “a Jica trouxe a questão do futuro, ou seja, como a agência quer interagir”. “E ela tem tudo para ser protagonista do agro brasileiro como foi no passado, mas agora no viés de inovação”, disse Hiraiwa, que idealizou o hackathon Smart Agro. Realizado nas edições da Expo Londrina, O evento, como o próprio nome sugere, é uma maratona que reúne hackers, programadores, desenvolvedores, inventores e criativos para o desenvolvimento de projetos que transformem ideias inovadoras em soluções digitais e acessíveis a públicos-alvo específicos.

Revolução verde – Além do representante sênior da Jica, palestraram também no 15º Bunkyo Rural a pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa de Soja da Embrapa, Francismar Corrêa Marcelino Guimarães, que falou sobre “Biotecnologia e Genômica: perspectivas na Agricultura Moderna; o representante da CAMTA – Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (PA), Michinori Konagano, que abordou o “SAFTA – Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu”; e o engenheiro agrônomo Wellington Xavier Furlanetti, que enfocou a “Agricultura sustentável e integrada”.

Para Francismar, um dos desafios da agricultura moderna refere-se ao crescimento da população mundial. Ela citou um levantamento da ONU (Organização das Nações Unidas), que prevê que, em 2050, a população mundial será de 9,7 bilhões de pessoas. Para alimentar esse contingente, a produção de alimentos deverá aumentar 70%.

Francismar conta que a questão não é “só produzir mais alimentos”, mas também lidar com as alterações provocadas pela mudança climática e o impacto que isso pode ter na agricultura. E destacou a importância do melhoramento genético nesse cenário, lembrando sua evolução até a surpreendente edição gênica CRISPR-CAS9, visto como uma “nova revolução verde”.

Provocação – Ex-secretário de Agricultura de Tomé-Açu (de 2004 a 2015) e ex-presidente da Camta (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu), o produtor agrícola Michinori Konagano iniciou sua fala com uma “provocação” à plateia explicando que o Sistema Agroflorestal de Tomé- Açu (Safta), que teve início na década de 70 através da consorciação de diversas culturas agrícolas, frutíferas e florestais nas áreas onde predominava a monocultura decadente da pimenta-do-reino, “pode ser implantado em qualquer lugar do mundo”.
E apontou algumas vantagens do cultivo em Safta, como o equilíbrio de biodiversidade; conservação do solo; retenção de umidade; baixo uso de irrigação; redução do uso de defensivos; ambiente agradável de trabalho e produção e renda durante o ano inteiro, além da qualidade dos alimentos.

Konagano lembrou que a Camta foi fundada em 1929 por imigrantes japoneses que, no início, cultivavam, principalmente, cacau e arroz. Introduzida em 1930, a cultura da pimenta-do-reino trouxe prosperidade e riqueza, gerando o desenvolvimento da região, atingindo seu auge entre 1950 e 1970. No entanto, uma doença doença chamada “Fuzariose” reduziu as plantações abrindo espaço para a diversificação do sistema de produção na região Amazônica.

Com apoio do governo japonês, teve início, então, na década de 70, o Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu, que transformou a região em importante polo exportador de frutas tropicais e referência no desenvolvimento, inovação e disseminação da tecnologia Safta no Brasil, Bolívia e Ghana, na África.

 

Inspiração – O sistema foi inspirado na vivência dos povos ribeirinhos, habitantes das margens dos rios da Amazônia, que plantavam em seus quintais o policultivo de árvores frutíferas e florestais, imitando a floresta. Hoje, além de pimenta-do-reino, a região produz açaí, cupuaçu, gliricídia, banana, maracujá e arroz, entre outras culturas.

Com 172 cooperados e mais de 1800 famílias cadastradas, a Camta também produz polpas de frutas, sorbet (com zero de lactose), óleos vegetais e amêndoas de cacau. Por sua sustentabilidade, o sistema rendeu à Camta reconhecimento internacional, com a conquista de diversas premiações.

Por fim, o engenheiro agrônomo Wellington Xavier Furlanetti contou um pouco mais sobre a Integrada Cooperativa Agroindustrial, fundada em 06 de dezembro de 1995 por 28 produtores. Salientou a missão, a visão e os valores da cooperativa.

Programação incluiu também uma visita à Associação Cultural e Esportiva de Londrina

 

Compartilhar – Para Nelson Kamitsuji, a escolha de Londrina para sediar a primeira edição presencial do Bunkyo Rural, não foi mero acaso. “O norte do Paraná é famoso não só pela terra roxa como também pelo fato de que muitos agricultores aqui conseguiram permanecer até agora na atividade agrícola, inclusive com sustentabilidade”, disse Kamitsuji, explicando que o objetivo do Bunkyo Rural não é o de ensinar, “mas compartilhar informações e experiências”.

“Nós quisemos mostrar para o público em geral o que é feito aqui e, em contrapartida, trouxemos lá de Tomé Açu uma experiência sobre o sistema agroflorestal”, disse ele, que destacou ainda a participação da Jica e da Embrapa, “com toda a sua tecnologia alavancando a produtividade aqui na região”. “Acredito que cumprimos nossa missão”, disse Nelson Kamitsuji, antecipando que, para 2023, a Comissão do Bunkyo estuda convites para realizar a 16ª edição em Juazeiro (BA) ou Petrolina (PE).

O grupo do Bunkyo Rural no Castelo Japonês, em Assaí

 

Importância – George Hiraiwa também destacou a importância do evento em Londrina. “Para nós foi de fundamental importância para que as pessoas e os produtores paranaenses possam conhecer que existe uma atividade do Bunkyo que cuida do agronegócio, no caso o Bunkyo Rural. Acho que para essa primeira investida o balanço é extremamente positivo para os produtores rurais pois deu oportunidade para que eles se conhecessem e sentissem que sempre terão novidades no setor”, afirmou Hiraiwa.

A comitiva do 15º Bunkyo Rural na sede da Cocriago

(ALDO SHIGUTI. O JORNALISTA COBRIU O 15º BUNKYO RURAL A CONVITE DOS ORGANIZADORES)

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