Erika Tamura – O envelhecimento da comunidade brasileira no Japão

 

Tenho acompanhado várias notícias sobre o envelhecimento populacional, inclusive no Japão. Mas o que ninguém fala é sobre o envelhecimento da comunidade brasileira que vive no Japão. E o que é pior, uma parcela desses brasileiros não estão amparados por nenhum tipo de plano previdenciário.

Trabalho em uma ONG que presta assistência aos brasileiros que vivem no Japão, e durante o ano passado, percebi que os maiores problemas e pedidos de ajuda, vieram de um público acima de 60 anos.

Foram diversos pedidos, o que mostra a complexidade da demanda no setor. Desde dúvidas sobre aposentadoria/seguros/ajuda do governo, até pedido de alimentos ou atendimento psicológico.

É triste saber que iremos envelhecer, pior ainda se não tivermos amparo, como poderemos ter uma boa perspectiva de futuro nessas condições?

Para isso, é necessário planejamento, e muito foco. Essa dica é para a geração atual, mas e aqueles primeiros brasileiros que chegaram no Japão, como dekasseguis? O que fazer?

O movimento dekassegui começou nos anos 90, onde muitos brasileiros descendentes de japoneses, tiveram a oportunidade de vir ao Japão, para trabalhar, juntar dinheiro e retornar ao Brasil. Hoje, esse movimento perdeu forças, e chamamos atualmente de movimento migratório, pois o brasileiros que sai do Brasil para trabalhar no Japão, dificilmente retorna ao Brasil.

No início do movimento dekassegui, os brasileiros não tinham acesso a nenhum amparo social, e também não tinham interesse em ter, já que a ideia era economizar o máximo para poder retornar o quanto antes para o Brasil, ninguém pensou em fundo de garantia e aposentadoria.

Depois, com o aumento de trabalhadores brasileiros no Japão, foi decretado o acordo previdenciário entre Brasil e Japão, uma grande vitória!

Na minha opinião, o acordo previdenciário veio para agregar e salvaguardar os nossos direitos como cidadãos. Porém a falta de informação faz com que muitos benefícios sejam perdidos. Vejo o acordo previdenciário funcionando muito bem para o lado japonês, onde muitos japoneses que foram trabalhar no Japão, foram beneficiados com tal acordo.

E, mais uma vez, a falta de informação e conscientização dos brasileiros no Japão, faz com que algumas decisões tomadas hoje, possam ser prejudiciais no futuro. Ainda vejo muitos brasileiros recusando-se a pagar o seguro social obrigatório, tanto do governo como da empresa.

O shakai hoken e o kokumin nenkin é o que vai nos ajudar na aposentadoria.

O pensamento brasileiro de que não quero depender de aposentadoria, cai por terra quando ocorrem casos de doenças, acidentes ou quaisquer outros imprevistos. Sem contar que o tempo está correndo, e com isso, a idade é um fator de seleção para empregos no Japão. (não somente no Japão, mas é que aqui é mais escancarado).

Em meio a pandemia, recebemos o pedido de ajuda de alguns brasileiros. São brasileiros que se encontravam doentes no Japão e tinham por sonho o retorno ao Brasil. Foi uma grande batalha, conseguir o embarque do Dr. Olavo Ribeiro, médico voluntário que faz o trabalho de translado de pacientes do Japão para o Brasil. Conseguimos transladar 4 pacientes, todos em estado de supervisão médico, por isso a necessidade de um acompanhamento médico.

É a realidade triste que tenho vivenciado nestes últimos anos, apesar de toda a estrutura oferecida pelo governo japonês, o fato de que uma parcela dos brasileiros vivem de forma irregular com a contribuição social e previdenciária, faz com que fatos de ajuda assistenciais, tornem-se cada vez mais recorrentes.

Estamos aqui, no trabalho diário, sempre a disposição para ajudarmos a quem quer que seja, mas por ora, fica a dica para que a longo prazo o cenário mude, e isso somente se dará com o acesso às informações. O Consulado Geral do Brasil em Tóquio, inclusive, disponibiliza uma cartilha sobre o assunto.  Vale a leitura, basta acessar o site do consulado.

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