Haicai Brasileiro – Temas de outubro

 

O Jornal Nippon Já publica aqui os haicais enviados pelos leitores. Haicai é um tipo de poema que se originou no Japão. Seu maior expoente é Matsuo Bashô (1644-1694). O haicai caracteriza-se por descrever, de forma breve e objetiva, aspectos da natureza (inclusive a humana) ligados à passagem das estações. Hoje, no mundo inteiro, pessoas de todas as idades e formações escrevem haicais em suas línguas, atestando a universalidade dessa forma de expressão.

 

A seleção é feita pelos haicaístas Edson Iura e Francisco Handa.

 

Escreva até três haicais de cada tema sugerido (o tema deverá constar do haicai), identificando-os com seu nome (mesmo quando preferir usar pseudônimo), endereço e RG. Cada pessoa pode participar com apenas uma identidade.

 

Os trabalhos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail ashiguti@uol.com.br, com o assunto: “Haicai Brasileiro”.

 

 

TEMAS DE OUTUBRO

 

Sabiá – Folhas novas – Catavento

 

Canta o sabiá –

Na manhã de chuva fina

minha sintonia.

Benedita Azevedo

Magé, RJ

 

no cinza agora brilha

o verde das folhas novas –

encontro de amigos

Bruno Ítalo

Teresina, PI

 

dia ensolarado

canta canta sabiá

bem perto do ninho

Carlos Viegas

Brasília, DF

 

Carrinho de bebê –

Cata-vento a girar

o mantém calminho.

Cristiane Cardoso

São Paulo, SP

 

Ouço o cata-vento

da casa do Seo Ariston:

vã imaginação.

Cyro Mascarenhas

Brasília, DF

 

Menino da roça

sorri com tão pouco na mão –

Cata-vento

Fernando Mandioca

Uíge, Angola

 

Por todo o jardim

o brilho das folhas novas

ao amanhecer

George Goldberg

Londres, Inglaterra

 

Com a chuva fraca

aparecem na terra

as folhas novas.

Jaíra Presa

Santos, SP

 

Cata-vento induz

tantos sorrisos na rua

É manhã de sol

Jonas Reis

Vitória, ES

 

estranho balanço…

o cata-vento quebrado

aos sopros da noite

José Marins

Curitiba, PR

 

canto conhecido –

sabiá pousado no galho

avisa chegada

Madô Martins

Santos, SP

 

O menino corre

com cata-vento na mão –

Gira, gira, gira…

Marli Tristão

São Paulo, SP

 

Menina adormece

com o cata-vento na mão –

Fim da travessura.

Mônica Monnerat

Santos, SP

 

Na aula de arte

a criança faz girar

o seu cata-vento.

Regina Coeli Nunes

Magé, RJ

 

Andando no parque,

Ouço um canto de sabiá…

Faço uma parada.

Reneu Berni

Goiânia, GO

 

gira cata-vento:

brincadeira de criança

ao redor da praça

Rose Mendes

Ilhabela, SP

 

Parece que ouço

o assobio de meu pai –

Canto do sabiá

Taís Curi

Santos, SP

 

Na planta doente

aparecem folhas novas

– Último suspiro.

Zekan Fernandes

São Paulo, SP

 

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Temas de novembro (postar até 10 de outubro)

Semente – Araponga – Finados

 

Temas de dezembro (postar até 10 de novembro)

Cardeal (ave) – Hortênsia – Décimo-terceiro (salário)

 

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A Construção da Linguagem (10)

Por Francisco Handa

Não posso compor nada que seja estranho à experiência devidamente realizada. Isso torna o haicai uma composição em que se fomenta o conhecimento do meio em que vivemos para trabalhar as nossas sensações. Se algum kigô apresentado for de um assunto desconhecido por mim, o melhor seria conhecê-lo antes de poder compor. Algumas plantas são desconhecidas por mim, existentes em outras floras, como o Pantanal ou a Amazônia. Seria impossível compor sobre elas, sem cair nas armadilhas de uma idealização. Posso dizer que o jiló é amargo, desde que o tenha uma vez experimentado. Hoje posso compor um haicai em que o jiló seja elemento de kigô ou parte secundária da mesma composição.

Em tempos de pandemia, em 2020, o Natal não foi experimentado por mim. Não visitei shoppings, nem lojas, nem as luzes da rua Normandia, em São Paulo. O que sabia eram apenas lembranças. Se compusesse um haicai com este kigô, seria o Natal experimentado sem os parentes e amigos. Isso era o que aconteceria.

 

 

 

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