Haicai Basileiro – Temas de Julho
O Jornal Nippon Já publica aqui os haicais enviados pelos leitores. Haicai é um tipo de poema que se originou no Japão. Seu maior expoente é Matsuo Bashô (1644-1694). O haicai caracteriza-se por descrever, de forma breve e objetiva, aspectos da natureza (inclusive a humana) ligados à passagem das estações. Hoje, no mundo inteiro, pessoas de todas as idades e formações escrevem haicais em suas línguas, atestando a universalidade dessa forma de expressão.
A seleção é feita pelos haicaístas Edson Iura e Francisco Handa.
Escreva até três haicais de cada tema sugerido (o tema deverá constar do haicai), identificando-os com seu nome (mesmo quando preferir usar pseudônimo), endereço e RG. Cada pessoa pode participar com apenas uma identidade.
Os trabalhos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail ashiguti@uol.com.br, com o assunto: “Haicai Brasileiro”.
TEMAS DE JULHO
Garoa – Árvore sem folhas – Vinho Quente
Sob a chuva fina
um pássaro se sacode –
Árvore sem folhas.
Benedita Azevedo
Magé, RJ
A fila comprida…
Barraca do vinho quente
a mais disputada.
Cristiane Cardoso
São Paulo, SP
manhã de garoa –
pendurado na mochila
o guarda-chuva
Daniel Morine
Santos, SP
que solidão…
sob a árvore sem folhas
mendigo sentado
Elisa Campos
São Paulo, SP
indo pra pelada
uma pequena garoa
começa a cair
Fernando Avendanha
Belo Horizonte, MG
O cachimbo aceso
e uma xícara de chá –
Garoa lá fora
George Goldberg
Londres, Inglaterra
De galhos secos
apontados para o céu –
Árvore sem folha.
Jaíra Presa
Santos, SP
eta, vinho quente!
o riso da companheira
de face rosada
José Marins
Curitiba, PR
escola noturna –
aluna abraça os livros
por causa da garoa
Madô Martins
Santos, SP
Árvore sem folhas –
Faz barulho nos galhos
o vai e vem do vento
Marina Rehfeld
Belo Horizonte, MG
A garoa fina
numa tarde de domingo.
Gato na janela…
Marli Tristão
São Paulo, SP
Na mão da beata
um copo de vinho quente
para o senhor Padre.
Matusalém Dias de Moura
Iúna, ES
Inquietação…
Na chegada à velha casa,
árvore sem folhas.
Mônica Monnerat
Santos, SP
Ah, vinho quente…
O beijo dos namorados
agora vermelhos
Regina Alonso
Santos, SP
Na barraquinha
o vinho quente com frutas
atrai as pessoas.
Regina Coeli Nunes
Rio de Janeiro, RJ
garoa na manhã
a fala de pescadores
chegando no píer
Rose Mendes
Ilhabela, SP
Árvore sem folhas –
O balanço solitário
à beira da estrada
Taís Curi
Santos, SP
Festinha na rua –
O vapor do vinho quente
no tacho e nas bocas.
Zekan Fernandes
São Paulo, SP
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Temas de agosto (postar até 10 de julho)
Vento Frio – Rosa de Inverno – Tricô
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Temas de setembro (postar até 10 de agosto)
Ipê – Filhote de gato – Queimada
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A Construção da Linguagem (6)
Por Francisco Handa
Uma das belezas apresentadas na composição do haicai é a ausência de julgamentos. Todos os eventos manifestos na natureza são válidos. Nada pode ser desprezado. Podemos compor sobre o nascimento de algum menino, dos filhotes de gato, dos girinos, das aves de arribação, como também do Dia de Finados. Quem disse que o Dia de Finados não era um assunto bom para ser composto, negava os acontecimentos reais de nossa existência. Posso compor também sobre o Dia da Paixão, Dia da Padroeira ou Dia dos Pais. No caso do Dia dos Pais, alguns haicaístas não têm mais pais. Sendo assim, segundo a própria experiência, a data não será mostrada como um dia de festas. Só se for para comemorar o Dia dos Pais como sendo dele próprio ou de um outro. No meu entender, sou favorável que exista uma coerência daquilo que se compõe, com a experiência vivida pelo compositor.
Com o uso dos kigôs possíveis, devidamente experimentados, o haicaísta pode criar o que esteja ao seu alcance, respeitando-se os limites impostos pela seriedade da composição. Isso parece subjetivo, mas é cada um conforme o seu entendimento.