Em apenas três anos, Walter Ihoshi moderniza e desburocratiza Junta Comercial do Estado de São Paulo

Quem costuma frequentar o imóvel localizado na Rua Guaicurus, 1394, na Lapa (zona Oeste de São Paulo), deve ter notado que o clima ficou mais “leve”, tanto dentro como fora dos galpões. Construído no início do século 20 para abrigar uma fábrica de tecelagem e que por três décadas abrigou a Estação Ciência – USP, o imóvel passou por constantes reformas e desde julho de 2019 é a atual sede da Jucesp – Junta Comercial do Estado de São Paulo.

Cercada de pompas, a inauguração contou com a presença do governador João Doria (PSDB), do então prefeito Bruno Covas e de vários secretários estaduais, entre eles, a de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen da Silva.

Na ocasião, Doria anunciou, em grande estilo, a abertura de empresas de baixo risco em 24 horas – a média era de 3.5 dias. Fazia, então, cinco meses que o ex- deputado federal Walter Ihoshi havia assumido o cargo de presidente da Junta a convite do próprio governador com a missão de modernizar o órgão, que em 2022 completa 132 anos de existência.

Missão dada, missão cumprida. Em três anos no cargo – a serem completados em fevereiro próximo – Ihoshi não só modernizou o atendimento como também disponibilizou aos empreendedores paulistas novos serviços.

Apesar de ter um itenso cronograma a cumprir até o final de sua gestão – deve se descompatibilizar do cargo até o final de março para tentar concorrer a uma vaga à Câmara dos Deputados  nas eleições deste ano – Walter Ihoshi conseguiu implementar uma verdadeira revolução no órgão, que era sinônimo de burocracia.

Para citar alguns projetos, além da redução de tempo para a abertura de novas empresas – o que por si só já pode ser considerado um feito – e da mudança física – funcionava antes na Rua Barra Funda – Ihoshi  e equipe implantaram, ainda em novembro de 2019, um projeto visando dar continuidade à missão de transformação digital da Junta. “Mesmo antes da pandemia nós já havíamos iniciado esse processo. E nós implementamos aqui o projeto Integrador Estadual VRE/Rede Sim, um sistema responsável pela integração de dados da consulta de viabilidade locacional, registro, inscrições e licenciamento da empresa”, disse Ihoshi, que recebeu a reportagem do Nippon Já no início deste ano.

Ele lembra que a Jucesp é a maior do país. Das 27 existentes, a paulista é responsável por 42% registros mercantis do Brasil. “Por dia nós atendemos cerca de seis mil processos. Somente aqui na nossa sede a gente atende metade desses processos, ou seja, por volta de 3 mil, e os outros 3 mil são nos 38 escritórios regionais pelo Estado de São Paulo. Então você imagina a responsabilidade que nós temos aqui”, conta ele, explicando que muita gente ainda faz confusão, “achando que tudo é na Junta”. “A Junta é responsável pela abertura dos tipo jurídicos empresário individual, limitada, cooperativa, sociedade anônima e eireli. Queria deixar claro que os MEIs (microempreendedores indviduais) não são registrados na Junta e sim direto no Portal do Empreendedor, ou seja, direto na Receita Federal. A gente recebe aqui algumas demandas de MEIs, de pessoas que acham que é aqui, mas a gente devolve essa situação para eles dizendo que MEIs não são na Junta”, salienta Ihoshi, acrescentando ainda que quem  pretende abrir uma entidade sem fins lucrativos – como uma Organização não Governamental – deve se dirigir aos Cartórios, assim como quem quer registrar um escritório de advocacia deve procurar a OAB – Ordem dos Advogados do Brasil.

 

Integrador Estadual – Segundo ele, apesar de ser a maior do país, a Junta Comercial do Estado de São Paulo era uma das poucas que ainda não estava com seu Integrador Estadual. “E o que vem a ser isso? Com o Integrador Estadual, todas as informações são prestadas em um único lugar. Não sendo mais necessários inúmeros comparecimentos presenciais à Prefeitura, Receita Federal, Corpo de Bombeiros, Cetesb, entre outros. Com o Integrador Estadual Paulista, todo o processo é feito em um único portal, dando simplicidade aos procedimentos de registro. Com o certificado digital, inclusive, tudo é feito de forma online, sem sair de casa. Antigamente o empresário falava: ‘puxa, preciso ir lá na Junta Comercial para abrir uma empresa e depois tenho que ir na Receita Federal para pegar o CNPJ. E depois tenho que na Secretaria da Fazenda pegar ma Inscrição estadual e depois ir no municípiuo para fazer a viabilidade’”, explica Ihoshi.

 

Dinâmico – “No Integrador, através do sistema, tudo é feito online. É claro que uma ou outra situação você tem que ir lá presencialmente, mas a ideia é facilitar a vida de quem quer empreender”, destaca, afirmando que “ainda este ano, quando estiverem concluídas todas as alterações contratuais vamos ter uma Junta 100% Digital”.

Outra conquista desta atual gestão nesse processo de desburocratização e simplicação para facilitar a vida de quem quer empreeder foi o sistema de registro de livros societários em formato digital, em que não é mais preciso marcar hora para fazer o registro de livros contábeis e atas.

“Tudo é feito de forma digital. Antes você recebia aqui um caminhão de livros e tinha que agendar. Agora, o livro entra, fica alguns dias, é registrado e vai embora. Não precisa marcar hora”, diz Ihoshi.

Atendente virtual – “Os nossos canais de atendimento estão cada vez mais virtuais. Hoje nós já temos uma atendente virtual, a ‘JU’ – que, através de inteligência artificial a gente está treinando para que ela possa responder as perguntas dos nossos usuários, sendo que nossos principais usários não são diretamente os empresários, são os contadores e os escritórios de contabiidade”, conta Ihoshi, referindo ao Chatbot implantado em maio de 2021.

“E a nossa ideia é que esses serviços sejam cada vez mais amigáveis através dos canais digitais, do nosso Portal, dos nossos sistemas para abrir uma empresa. Tudo isso seja cada vez mais fácil para o usuário utilizar”, explica, lembrando que em janeiro de 2021 foi implantado o Balcão Único, que permite a abertura de empresas de forma gratuita e em um procedimento único.

“Trata-se de um sistema no modelo one stop shop que permite a qualquer cidadão abrir uma empresa de forma simples e automática, reduzindo o tempo e os custos para iniciar um negócio no Brasil. O projeto segue mais mais ou menos o conceito do integrador”, diz Ihoshi.

Idealizado pelo Governo de São Paulo, o modelo Balcão Único é uma parceria entre os Governos Federal, Estadual e Municipal e está presente apenas na cidade de São Paulo, que conta com um sistema de viabilidade automática, que permite o cruzamento de informações de uma determinada rua, por exemplo, com o Plano Diretor da cidade e com o Plano de Uso e Ocupação do solo.

“E aí você consegue saber se naquela determinada rua você pode abrir um restaurante ou uma padaria. Ou seja, ao invés de uma pessoa fazer a análise do que pode e do que não pode, o sistema vai automaticamente fornecer a resposta”, explica.

 

Recordes históricos – Tanto trabalho não passou despercebido. Durante a pandemia, o presidente da Jucesp foi presença constante nas coletivas do governador João Doria que, por diversas vezes se vangloriou das seguidas quebras de recordes de aberturas de novas empresas. Em agosto de 2020, por determinação do governador, a Jucesp anunciou a isenção de tarifas para a abertura de novas empresas. A medida, que durou 60 dias, teve efeitos imediatos e históricos.

Os bons resultados alcançados pela Jucesp invadiram também 2021. “No ano passado, de janeiro a novembro, nós abrimos cerca de 260 mil novos negócios aqui na Junta. Os MEIs, que são abertos no Portal do Empreendedor, registraram 800 mil novas MEIS abertas no Estado de São Paulo. Ou seja, se você somar os 260 mil com esses 800 mil vamos ter mais de um milhão de novos negócios no Estado de São Paulo. E os 260 mil de janeiro a novembro representam 16% acima de 2019, isto é, antes da pandemia –  que é o recorde da série histórica desde 1998”, lembra Ihoshi, destacando que “a Junta fez a sua parte, assim como o governo estadual e a própria sociedade, além dos empreendedores que fizeram um esforço muito grande”.

“Quem passou pela pandemia teve muita resiliência. Nós fizemos a nossa parte nesta transformação e agora estamos nesse processo de retomada. O governo estadual implementou várias ações, seja irrigando dinheiro através do Banco do Povo, dando crédito para o pequeno empresário, seja via parceria com o Sebrae, com cursos gratuitos”, observa.

Segundo ele, “agora, a grande missão nossa é gerar novos negócios e novos empregos. Empregos e renda que é o que a sociedade paulistana mais está precisando”, diz Ihoshi, que também teve como mérito montar uma equipe competente, mesclando funcionários que já estavam na Jucesp há muito tempo com outros escolhidos por ele de outros setores públicos. E sua própria transição também não foi das mais tranquilas.

 

Sucessor – “Não foi fácil porque fiquei muito distante de um cargo excutivo, mas não que isso me traga dificuldades”, assegura Ihoshi, que já foi empresário do setor de cosméticos, subprefeito do Jabaquara e atualmente é mebro do Conselho da Associação Comercial de São Paulo.

O esforço, no entanto, foi recompensado. Tanto que sua atuação frente à Jucesp determinará, daqui pra frente, uma mudança na escolha do perfil de seu sucessor.

“Essa transformação digital é a grande mudança que estamos fazendo e o próximo presidente da Jucesp terá que saber mais de tecnologia do que eu, Ou seja, não basta dominar a tecnologia, ele terá que conhecer também de gestão e aproveitar esses conhecimentos para liderar esse processo”, admite Ihoshi, afirmando que, “por ser um órgão público, o próximo presidente terá, também, que acumular experiência de relacionamento politico”.

“Trata-se de um cargo em que você lida com pessoas públicas, você lida com prefeitos, você lida com outros órgãos público e você lida com o governador; Então, essa experiência que eu trouxe de Brasília também me ajudou bastante a conciliar conhecimento técnico e gestão com o conhecimento político”, afirma Ihoshi, para quem “três anos passaram muito rápido”.

 

Saudades de Brasília – “Foram três anos muito importantes, de aprendizado, principalmente em tecnologia. Conheci profundamente o sistema das Juntas Comerciais e não somente como presidente da Jucesp, mas também como vice-presidente da Federação Nacional das Juntas abrimos um leque de relacionamento, principalmente de forma institucional, com entidades como o CRC – Conselho Regional de Contabilidade – e o Sescon – Sidicato dos Escritórios de Contabilidade. Esses relacionamentos nos trouxeram um conhecimento técnico e mais aprofundado do sistema de contabiliadade que funciona no Brasil e também da importância das Juntas. Acredito que tudo isso nos agregou um conhecimento mais amplo e esse conhecimento pode muito bem ser aproveitado no futuro em outros projetos porque espero que eu possa contribuir cada  vez mais com esse setores”, salienta Walter Ihoshi, concluindo que “sinto muitas saudades de Brasília”.

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